A criminalização da homofobia a ameaça às liberdades
Política
Publicado em 28/10/2019
Homofobia é algo reprovável, não se discute. Também está à prova de discussão que agressões e assassinatos de homossexuais, travestis e transexuais precisam ser devidamente apurados pelo poder público. O código penal brasileiro sempre previu punição para casos do gênero — se a agressão for motivada por ódio à orientação sexual da vítima, existe o agravante “motivo torpe”. Mesmo assim, este ano o Supremo Tribunal Federal achou que era necessário criar mais um tipo penal e criminalizar a “homofobia”.

Um dos maiores temores das pessoas contrárias à lei da criminalização da homofobia é seu caráter autoritário. Embora o adjetivo “orwelliano” esteja cada vez mais gasto, a lei criada pelo STF se encaixa perfeitamente no tipo capaz de criminalizar o pensamento, criminalizar ideias que sejam incômodas.

Mesmo que o STF tenha feito a tentativa de abrir uma exceção para as denominações religiosas que reprovam o comportamento homossexual — e a crítica ao comportamento nunca foi cerceada por lei em nenhum lugar minimamente civilizado — existem militantes que gostariam de calar qualquer tipo de dissidência.
 
Embora a lei ainda não esteja em vigor, já existem movimentos para aplicá-la de forma a calar os religiosos — e quaisquer pessoas — que não concordem com ela.
 
No último dia 30 de junho, ao final de uma missa dominical na capela São João Batista, na zona oeste de Recife, o padre Rodrigo Alves de Oliveira Arruda pediu que os fiéis assinassem um abaixo-assinado para que o Senado aprovasse um projeto de lei limitando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que criminaliza a homofobia.

A resposta veio na terça-feira, 15 de outubro. O Ministério Público de Pernambuco abriu um inquérito civil que, segundo a decisão divulgada no Diário Oficial, tem o objetivo de “apurar os fatos e circunstâncias reveladores de possíveis violações dos direitos da população LGBT”.

É válido perguntar ao MP: como é possível que a convocação para um mero abaixo-assinado contestando uma lei que ainda não está em vigor pode violar os direitos da população LGBT?

A resposta legítima seria: “Não é possível”. Mas é de supor que o interesse por trás dos promotores que abriram o inquérito seja justamente o de eliminar qualquer tipo de contestação. Ao ameaçar um sacerdote que estava exercendo sua liberdade religiosa, o recado do MP é o de que ninguém está a salvo do apetite estatal por censura. Se um sacerdote católico pode ser perseguido, qualquer um que expresse a mínima contrariedade está em risco.

Mais uma vez é importante ressaltar que não se deseja aqui fazer uma defesa da humilhação dos homossexuais, que merecem ter sua integridade e dignidade plenamente protegidas. Mas, como frisa o editorial da Gazeta do Povo intitulado “Homofobia no STF, ativismo judicial e liberdade de expressão” :

“Isso não significa que essas escolhas e a defesa que se faz delas devam ser juridicamente blindadas de qualquer crítica, embora muitos estejam dispostos a confundir os dois conceitos, criminalizando todo discurso que desagrade certa militância.”

Ninguém deseja passe livre para ofender homossexuais. Mas esta lei pode se tornar um instrumento para calar toda crítica, chegando ao absurdo de colocar pessoas na cadeia por praticar o saudável hábito do debate civilizado. 

A Gazeta do Povo é o único grande veículo de comunicação  do Brasil que se posicionou contra a lei de criminalização da homofobia. Os motivos estão expostos nos vários editoriais a respeito.
 
Fonte: Jornal "Gazeta do Povo"
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