Redes sociais manipulam usuários para serem dependentes de posts patrocinados
Política
Publicado em 28/10/2019

Desde que a rede social se tornou também uma boa forma de fazer dinheiro e publicidade, as coisas nunca mais foram as mesmas. O que era a princípio algo com o intuito de apenas partilhar fotos, videos e recordações com amigos e família, se tornou meio de vida para alguns e passou a gerar bilhões de dólares para os donos destas plataformas, mudando completamente a relação que estas empresas têm com os seus usuários, e vice versa.

Com o surgimento da figura do influenciador digital, a disputa por ‘likes' se tornou acirrada e determinante para conseguir evidência. Deste modo, empresas de todos os tamanhos também viram na rede social a oportunidade de conquistar o público, ganhar evidência e angariar seguidores, que revelam a popularidade e capilaridade de seus negócios. Até que surgiu o chamado ‘post patrocinado’e aconteceram mudanças no algoritmo do Facebook e do Instagram, que privilegiam usuários pagantes, que investem dinheiro na promoção de seus conteúdos.

O filósofo, especialista e mídia social e assessor de imprensa Fabiano de Abreu aponta que isto gera uma dependência, já que a interação e a visibilidade supostamente seriam proporcionais ao investimento: “trabalho com muitos clientes de mídia social, personal branding e assessoria e é impressionante como a interação nas redes sociais nunca mais foi a mesma agora que o Instagram e o Facebook praticamente te forçam a pagar para ter a mesma visibilidade que tinha antes do surgimento dos posts patrocinados. Muitos dos meus clientes têm reclamado que a interação caiu absurdamente nos seus posts e que a toda hora a rede social sugere o impulsionamento. Alguns relatam que tiveram queda de 60% na interação, mesmo com o crescimento considerável do número de seguidores. Isto mostra que algo está errado. Assim ficamos dependentes de sempre estar investindo algum dinheiro nas publicações para não perder visibilidade perante o algoritmo das redes sociais”.

O especialista também ressalta que as mudanças no algoritmo do Instagram acabam forçando quem quer manter a interação e visibilidade a sempre patrocinar posts: “o algoritmo do Instagram é um enigma super complexo, que quando você pensa que o entende, ele muda de novo. Eles estão sempre a mudar as regras do jogo. Além disto, muitas mudanças não são anunciadas no blog do Instagram, mas publicadas em uma aba escondida na Central de Ajuda. Se as publicações na rede social já estavam com um alcance comprometido antes, agora seus posts só aparecem para 10% das pessoas que te seguem, a partir daí o algoritmo mede o interesse do seu público e determina se deve ou não ser mostrado para os demais, os outros 90%, forçando o usuário a patrocinar posts para manter pelo menos o mesmo nível de interação que tinha antes deste sistema entrar em vigor.

Segundo Fabiano, isto é uma maneira um tanto perversa de tratar o influenciador digital, mas pode ter um motivo não declarado: “Toda esta manipulação pode ter a ver com a queda de 50% dos lucros da rede social no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior, para os 2,6 bilhões de dólares. Logicamente o resultado financeiro segue extraordinário, mas uma queda de 50% e ainda as multas bilionárias que o Facebook sofreu por questões de invasão de privacidade e segurança da informação podem ser um dos motivos do aumento da voracidade do sistema”.
 
Fabiano de Abreu trabalha com mais de 50 contas de mídia social que somam mais de 20 milhões de seguidores e aconselha que sejamos unidos para derrubar a exploração: 
 
"O governo tem que entender que somos, hoje, dependentes da rede social e fazer leis que favoreçam os usuários. Uma delas é obrigar ao Facebook e ao Instagram a ter uma central de apoio que atenda telefonemas. Somos clientes dessa rede e temos que ter os mesmos direitos que a lei exige para qualquer outra empresa. A melhor manifestação popular seria pararmos de usar a rede social por um tempo ou dar a oportunidade para as gratuitas. Não se esqueçam que os patrocínios já bancam esses aplicativos e não deveríamos pagá-los."
 
 
Fabiano de Abreu 
Gestão geral grupo MF Press Global 
 
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