O Bem Diverso é uma iniciativa conduzida pela Embrapa e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) para a conservação da biodiversidade brasileira em paisagens diversas e de múltiplos usos. No Maranhão, o Território da Cidadania – TC no Médio Mearim, na região dos Cocais, é o espaço onde se desenvolve o Bem Diverso. O TC compreende 16 municípios, 876 mil hectares, onde mais de 40% da população vive na área rural e tem como fonte complementar de renda o extrativismo do babaçu. A espécie foi definida como prioritária pelo Projeto Bem Diverso por dominar a composição da vegetação na região, cobrindo vastas áreas chamadas de babaçuais. No estado, o projeto foi iniciado em 2015 e tem atividades planejadas até 2020.
A mais recente ação do Projeto Bem Diverso no Maranhão foi trabalho de campo na área de manejo situada entre os municípios Lago do Junco, Lago dos Rodrigues, São Luiz Gonzaga do Maranhão e Bom Lugar, com coleta de dados em pastagens. A atividade foi realizada em parceria com a Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão – ASSEMA, Cooperativa de Pequenos Produtores Agroextrativistas do Lado do Junco e Lago dos Rodrigues – COPPALJ, membros das comunidades e ainda a Embrapa Amazônia Oriental.
“Foram amostradas por meio de parcelas de área fixa de 50 m x 50 m, alocadas em áreas com diferentes densidades de babaçu. Em cada parcela foram contadas as palmeiras jovens e adultas, nominadas localmente como ‘capoteiro’ e ‘indivíduo adulto’, sendo esses dados utilizados para calibração e validação do mapa confeccionado por meio de técnicas de sensoriamento remoto. Para as outras classes foram registrados com GPS pontos para validação, distribuídos em toda área de manejo”, explicou Renan Augusto Miranda Matias, consultor em geoprocessamento do Bem Diverso. O objetivo é a confecção do mapa de uso dos solos com estratificação das pastagens em função das diferentes densidades de Babaçu, mapa este que possibilitará a criação de estratégias vinculadas ao plano de manejo, com identificação de áreas prioritárias à intervenção, proporcionando a otimização em distância de coleta de coco de babaçu associada à quantidade coletada.
“Hoje a Embrapa tem um conhecimento mais aprofundado sobre os territórios abrangidos pelo projeto e isso se deve às ações realizadas pelo Bem Diverso nos últimos anos nos municípios abrangidos. Nessa nova fase, de consolidação do projeto e possibilidade de ampliação, estamos correndo atrás de novo aporte de recursos”, avalia o pesquisador Anderson Sevilha, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Unidade da Embrapa que lidera o projeto no Brasil.
Segundo o analista da Embrapa Cocais responsável pelo Bem Diverso na Unidade, Marcos Toledo, aprendeu-se, nos diálogos com as comunidades tradicionais, a se desenvolver o trabalho de PD&I de forma participativa. “As pessoas desses locais são envolvidas ativamente em todas as fases da pesquisa e desenvolvimento, buscando a produção conjunta de conhecimento para o atendimento das demandas do setor extrativista”, conta.
Por essa perspectiva, no extrativismo do babaçu são respeitados, por exemplo, os hábitos culturais das quebradeiras do coco, buscando desenvolver tecnologias e práticas de fabricação que incrementem a produção com mais qualidade e segurança. Busca-se também o manejo integrado agro-extrativo-pastoril, que alia o extrativismo do coco de babaçu, a produção agrícola (arroz, mandioca, milho, feijão), florestal e criação de animais (bovinos, suínos e caprinos).
Pesquisa da Embrapa Cocais - Em diagnóstico analítico realizado, em 2017 no âmbito do Bem Diverso, em que subprodutos do babaçu e seus processos de industrialização foram analisados, a Embrapa Cocais, em parceria com outras Unidades da Embrapa e instituições locais de pesquisa do Maranhão, propôs o desenvolvimento das seguintes atividades de pesquisa: formulação de rações balanceadas contendo coprodutos agroindustriais de babaçu (torta de babaçu) para pequenos ruminantes (caprinos e ovinos); desenvolvimento e adaptação de protótipos para quebra do coco e extração de mesocarpo, em fase de validação; formulação (com apoio de consultoria) de sabonete de babaçu e construção de perfil agroindustrial mínimo para sua produção; novos processos alimentícios com babaçu (biscoitos e sorvetes); e, ainda, organização, sistematização e disponibilização de informações sobre procedimentos necessários para formulação e operação de organizações de extrativistas de babaçu.
Mais sobre o Bem Diverso – É um projeto que busca promover o desenvolvimento sustentável dos territórios abrangidos e garantir os modos de vida das comunidades tradicionais e agricultores familiares, a geração de renda e melhoria de sua qualidade de vida, e ainda gerar subsídios para aperfeiçoar as políticas públicas sobre uso sustentável e conservação da biodiversidade. Para tal, atua em dois eixos principais: desenvolvimento e promoção do uso de técnicas de manejo para extração e uso sustentável de produtos florestais não madeireiros (sociobiodivesidade) e promoção de sistemas agroflorestais (SAF); e identificação dos gargalos financeiros e de mercado que comprometem o aumento da produção e da renda de comunidades agroextrativistas e agricultores familiares. A execução é feita em parceria com organizações do governo e da sociedade civil. Para mais informações, acesse http://www.bemdiverso.org.br/.
O público-alvo do projeto são agricultores familiares e comunidades tradicionais, grupos cuja sobrevivência e geração de renda dependem da biodiversidade. O Bem Diverso atua diretamente em seis Territórios da Cidadania - TC que estão localizados em três biomas brasileiros: Alto Acre e Capixaba (AC) e Marajó (PA), no Bioma Amazônia; Alto Rio Pardo (MG) e Médio Mearim (MA), no Bioma Cerrado; Sobral (CE) e Sertão do São Francisco (BA), no Bioma Caatinga.
Usos potenciais do babaçu - Em cada coco de babaçu são encontradas de uma a seis amêndoas. O coco de babaçu possui quatro camadas, todas aproveitáveis. O epicarpo, a camada mais externa fibrosa, vira palha ou adubo vegetal. Do mesocarpo, a parte imediatamente abaixo do epicarpo, pode ser extraída uma farinha comestível rica em amido, da qual se faz pães, biscoitos, bolos, mingaus e muitas outras delícias. A terceira camada interna do fruto, o endocarpo, pode-se produzir um carvão vegetal de excelente qualidade, amplamente utilizado nas residências rurais no Maranhão, com mercado crescente para uso industrial. E da semente, popularmente conhecida como amêndoa, se extrai o óleo e o azeite, utilizados principalmente na culinária e na indústria de cosméticos e produtos de limpeza. A torta, subproduto restante da extração do óleo, pode ser utilizada para alimentação animal. Outros produtos de aplicação industrial podem ser derivados do coco do babaçu, tais como etanol, metanol, fibras, coque, carvão ativado, gases combustíveis, ácido acético, alcatrão, biofilmes, lubrificantes, cosméticos, etc.