Valores de produtos estavam anotados em alguns cadernos, encontrados em um garimpo localizado na região de Surucucu
Por Fábio Carvalho (MN)
Durante uma operação para desmantelar acampamentos clandestinos na Terra Indígena Yanomami, foram encontrados preços exorbitantes de produtos vendidos por garimpeiros ilegais: um pacote de calabresa por mais de mil reais, dois frangos por R$ 700 e um botijão de gás de cozinha por R$ 665.
Esses valores estavam registrados em cadernos encontrados em um garimpo na região de Surucucu. As informações foram divulgadas pelo governo federal na noite de sexta-feira (20).
VEJA VALORES DE OUTROS PRODUTOS
Na lista, estavam os preços de combustíveis, botas de borracha, caixas de chocolate, cigarros e itens de primeira necessidade, como arroz, feijão, leite e açúcar. O ouro extraído do garimpo ilegal era utilizado como moeda de troca, atualmente cotado a R$ 350 por grama.
No local, um pacote de calabresa era vendido por 3 gramas de ouro, totalizando R$ 1.050. Um galão de 50 litros de combustível chegava a R$ 2,8 mil, enquanto 3 kg de farinha custavam R$ 1.260.
Um par de botas de borracha era vendido por 1,5 gramas de ouro, ou mais de R$ 500. Além disso, o acesso à internet via satélite também era comercializado, custando 0,5 gramas de ouro por um dia, equivalente a R$ 175.
MINICIDADE NA FLORESTA
Os garimpos ilegais na floresta muitas vezes se assemelham a uma minicidade, com a Polícia Federal encontrando prostíbulos, boates, festas de carnaval, bingos, Wi-Fi, restaurantes e até consultórios odontológicos.
O território Yanomami, cercado pela densa floresta amazônica, é de difícil acesso. As mercadorias são transportadas por aviões e helicópteros em pistas improvisadas ou por embarcações. O acesso aéreo é comum, com voos clandestinos partindo de Boa Vista custando até R$ 20 mil.
Dinheiro apreendido em operação da Polícia Federal — Foto: Divulgação/PF
Essa geografia isolada inflaciona os preços, forçando os garimpeiros a gastar grande parte do ouro extraído em produtos de primeira necessidade.
Segundo o governo federal, os presos evidenciam o peso financeiro que recai sobre esses trabalhadores ilegais, que entram no território na esperança de enriquecer com o ouro.