De construção simples, o Paulistinha reinou absoluto nos aeroclubes do país durante décadas. Estima-se que pouco mais de 1.000 unidades do avião tenham sido construídas ao longo da história.
Ideia de apaixonados por aviação O Paulistinha é um desenvolvimento da antiga Empresa Aeronáutica Ypiranga e nasceu das mãos de homens apaixonados pela aviação.
Seus fundadores foram Horton Hoover (que veio ao Brasil para montar três hidroaviões CurtissWright adquiridos pela Marinha do Brasil), Henrique Dumont Villares (sobrinho de Alberto Santos Dumont) e o alemão Fritz Roesler (ex-piloto de caça que ajudou a fundar a companhia aérea Vasp e foi casado com Tereza de Marzo, primeira mulher brasileira a obter uma licença de piloto).
"Acrobacias arriscadas"
O jornal da época descreveu o voo inaugural com uma decolagem rápida e perfeita, efetuada em poucos minutos. "O sr. Hoover, em uma demonstração de perícia, realizou arriscadas acrobacias, pondo à prova a eficácia e ótima construção do aparelho", noticiou o "Correio de S.Paulo".
Quando fez seu primeiro voo, o Paulistinha era chamado oficialmente de EAY 201. Apenas cinco unidades foram construídas pela Empresa Aeronáutica Ypiranga. O Paulistinha decolaria para valer depois de 1943, quando o projeto foi comprado pela Companhia Aeronáutica Paulista, recebendo o nome oficial de CAP-4.
Na década de 1950, o projeto foi vendido para a Indústria Aeronáutica Neiva, que posteriormente seria incorporada pela Embraer. Sob o comando da Neiva, o Paulistinha recebeu a designação P-56 e mais 261 unidades foram produzidas.
Mais antigo em operação é de 1946 Atualmente, cerca de 40 aviões do modelo Paulistinha ainda estão com situação regular junto à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) para realizar voos.
Os quatro Paulistinhas mais antigos em operação foram produzidos em 1946. O avião mais novo em condições regulares de operação foi produzido em 1969 e é operado pelo aeroclube de Rio Claro.
6,65 m de comprimento e asas de madeira O Paulistinha é um avião um monomotor de asa alta, com estrutura da fuselagem em tubos de aço soldados, asas feitas em madeira e trem de pouso convencional (duas rodas no trem principal e uma roda na bequilha, na parte traseira).
No início, o avião usava motor radial, que foi substituído por motor com quatro cilindros horizontais opostos.
O Paulistinha é um avião extremamente simples e leve. São 6,65 metros de comprimento, 1,95 metro de altura e 10,1 metros de envergaduras (distância entre as pontas das asas). Vazio, o Paulistinha pesa apenas 320 quilos. Com velocidade máxima de 155 km/h, o avião tem alcance de 500 quilômetros.
Nos aeroclubes de todo o Brasil, o Paulistinha tem a fama de ser o avião que melhor dá "pé e mão" aos pilotos. É como se diz no meio aeronáutico a habilidade de o piloto sentir e controlar todas as ações do avião durante o voo.
Essa característica, aliada ao baixo custo operacional, fez o sucesso do modelo para o treinamento de pilotos civis e militares no Brasil. Com o avanço da aviação, no entanto, muitas escolas e aeroclubes passaram a adotar aviões mais modernos, alguns, inclusive, com painéis digitais.
Mesmo assim, o Paulistinha ainda está longe de uma aposentadoria completa.
Por Vinícius Casagrande
Colaboração para o UOL, em São Paulo