O diagnóstico de um paciente com disforia de gênero (a sensação de pertencer ao gênero oposto ao do sexo biológico) é um dos cenários mais complexos para profissionais de psicologia e psiquiatria. Mas a experiência demonstra que, na maior parte dos casos, os sinais desse transtorno desaparecem com o tempo. Por isso, a abordagem mais conservadora costumava prescrever um acompanhamento psicológico adequado durante um período razoável de tempo.
Recentemente, entretanto, métodos mais cautelosos têm sido abandonados em favor de uma transição rápida com cirurgia e hormônios, que deixa marcas irreversíveis. Ao mesmo tempo, profissionais de saúde críticos desse modelo são silenciados, seja por meio dos órgãos de classe, como o Conselho Federal de Psicologia, seja por meio da pressão dos grupos mais engajados ideologicamente.
Hoje, a tese mais popular é a de que não cabe a psicólogos e psiquiatras avaliar se o paciente deve ou não fazer a transição, mas apenas facilitar o acesso a hormônios e cirurgias. É a chamada terapia “afirmativa”, que pode gerar sequelas gravíssimas em pacientes com disforia de gênero temporária.
Para mostrar as nuances na discussão sobre o assunto, a Gazeta do Povo convidou quatro pessoas - três profissionais de saúde e um ex-transexual - a compartilharem suas experiências pessoais nesse campo. Todos demonstram preocupação com os sinais de que a ideologia está se sobrepondo à ciência.
O que você irá ler nesta reportagem:
"O bom e honesto raciocínio clínico seria tratar a mente em vez de fazer uma cirurgia"
Por: Sérgio*, psiquiatra com 30 anos de experiência
"Na psicologia, o profissional que vai contra o que o Conselho defende pode até ter o registro cassado"
Por: Raphael Câmara, professor da UFRJ e conselheiro do Conselho Federal de Medicina
"Há muitos casos de jovens que se arrependeram e estão destransicionando, buscando a sua vida de volta, porém, com marcas profundas psíquicas e físicas, como a mutilação e a esterilização"
Por: Akemi Shiba, psiquiatra especialista em infância e adolescência
"Muitas vezes a gente pensa que a redesignação genital é a solução para os problemas. Não é a realidade (...)"
Por: Robert Diego de Paula, 33 anos, ex-transexual