Por Gisele Bridi
A vacinação infantil na rede pública está suspensa no Brasil até 16 de abril, para evitar aglomeração nos postos de saúde. A medida foi anunciada pelo Ministério da Saúde para deixar mais vazios os postos para receber os idosos que estão se vacinando contra a influenza. A medida é polêmica, visto que o calendário nacional de vacinação é uma ferramenta essencial para proteger bebês de doenças como a pneumonia, responsável por 15% do total de falecimentos de crianças de menos de 5 anos no planeta. Além disso, segundo a Unicef, “As vacinas funcionam como um escudo, protegendo crianças e recém-nascidos de doenças perigosas e poupando até 3 milhões de vidas a cada ano”.
A suspensão vai durar 20 dias, tempo suficiente para bebês contraírem pneumonia e outras doenças perigosas. Nas redes sociais do ministério da saúde, a população reclama da falta de vacinas nos postos e da suspensão da vacinação infantil, sugerindo, ou outras opções, como escalonar horários ou suspender a vacinação apenas de crianças maiores para priorizar bebês de até 12 meses, que são mais frágeis.
A campanha de vacinação contra a gripe teve início no dia 23 de março, nesta primeira etapa (de 23 de março a 15 de abril), o público-alvo são os idosos e os trabalhadores da saúde. A grande preocupação é evitar aglomeração nos postos de saúde, devido à epidemia de coronavírus. Crianças com seus pais e responsáveis podem, muitas vezes, disseminar doenças respiratórias, mesmo não apresentando sintomas. Pensando nisso, o Ministério da Saúde suspendeu vacinação de rotina em todos os postos de saúde até o dia 16 de abril.
A recomendação é que pais e responsáveis por crianças aguardem e, a partir do dia 16 de abril, voltem às unidades de saúde para realizar a vacinação de rotina. Esta medida, se estende também para população adulta, contemplada no calendário nacional de vacinação.
Influenza x Coronavirus
Vale relembrar que a vacina que está sendo ministrada nos postos de saúde não protege contra o coronavirus. O foco é a Influenza. Até 14/03/20, foram registrados 165 casos e 13 óbitos por Influenza A (H1N1), 139 casos e 14 óbitos por Influenza B e 16 casos e 2 óbitos por Influenza A (H3N2).
O estado de São Paulo concentra o maior número de casos de H1N1, com 42 casos e 2 óbitos. Em seguida, estão a Bahia (40 casos e 3 óbitos) e o Paraná (20 casos e 5 óbitos). No ano passado, o país registrou 5.800 casos e 1.122 óbitos pelos três tipos de influenza.
Vacinação infantil
Se por um lado a medida é importante porque prioriza os idosos nesse momento de combate ao Coronavirus, por outro, coloca em risco crianças de até um ano, que precisam receber as primeiras doses de vacinas importantes que protegem de doenças que podem matar ou causar danos irreversíveis.
Segundo o calendário de vacinação do Brasil, um dos mais completos do mundo (confira ele aqui), aos 2 meses os bebês precisam tomar a primeira dose da Pentavalente (Tetravalente + Hepatite B 2ª dose) , da vacina contra a Poliomielite (que protege da paralisia infantil), da Pneumocócica conjugada e da Rotavírus.
Com 3 meses eles recebem a primeira dose da Meningocócica C conjugada, e aos 4 meses já recebem a segunda dose da Pentavalente (Tetravalente + Hepatite B), da Poliomielite (VIP), Pneumocócica conjugada e Rotavírus.
Há mais doses importantes aos 5 e 6 meses e depois a primeira da Febre Amarela (dose única) e da Influenza aos 9 meses, e a primeira dose da Tríplice Viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola) aos 12 meses.
Suspender essa proteção por um mês nos postos públicos pode colocar em risco a saúde de muitas crianças, principalmente as mais pobres, visto que as clínicas particulares poderão continuar oferecendo as vacinas.
Vale lembrar que a cobertura vacinal em crianças de até 1 ano está em queda no Brasil, e isso faz com que vírus como o Sarampo, já considerados erradicados, voltem.
Para se ter ideia, a taxa de vacinação da tríplice viral no Brasil passou de 102,3% em 2011 para 90,5% em 2018, segundo dados do Ministério da Saúde, taxa abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que é de 95%. Já a taxa de vacinação da poliomelite caiu de 101,3% em 2011 para 86,3% em 2018.
A cobertura vacinal da BCG era de 107,9% em 2011 e também caiu para 95,6% em 2018. A vacina é aplicada no bebê ainda na maternidade e protege contra formas graves da tuberculose, uma doença com altos índices de mortalidade. O mesmo acontece com a meningite: a cobertura vacinal da meningocócica C caiu de 105,6% e para 85,6%.
Organização Mundial de Saúde e a Unicef, nenhuma medida de saúde pública é mais efetiva do que a vacinação. Ela previne adoecimento e óbito, é a mais democrática e eficiente.
Confira aqui a nota oficial do Ministério da Saúde: