“Não se acomodem”, diz consultora que leva beleza e empoderamento a mulheres
Política
Publicado em 07/03/2020

Na bolsa da consultora de beleza Talita Laércia, 31 anos, há mais que batons, sombras e blushes. Além dos produtos de maquiagem, a jovem que é mãe, dona de casa e Bacharel em Direito leva também palavras de incentivo quando atende outras mulheres.

 

“Procuro estudar, porque sou chamada de feminista por pouca coisa”, diz Talita, enquanto folheia O Segundo Sexo, da filósofa francesa Simone de Beauvoir. Em cima da bancada da cozinha, uma biografia da ativista paquistanesa Malala Yousafzai.

 

“O próximo livro que eu quero ler é o Tête-à-tête”. A partir da leitura de entrevistas do casal Beauvoir e Jean-Paul Sartre, Talita espera conseguir defender melhor as próprias ideias. “A gente já avançou muito em atitude, mas precisa saber argumentar”, opina.

 

Enquanto busca apoio na teoria, a consultora exerce o feminismo na prática. A forma não é nada convencional: a partir da relação das clientes com a autoimagem, Talita observa como estão a autoestima e a autonomia dessas mulheres.

 

“Já aconteceu de eu estar maquiando uma cliente e ela começar a chorar, como se estivesse se redescobrindo”, lembra. Muitas se sentem invisíveis, presas a uma rotina de maternidade e atividades domésticas que atrapalham o desenvolvimento das ambições profissionais.

 

“É quando eu digo para elas que não se acomodem. Sempre há uma saída, uma alternativa para conquistar a própria independência”. Talita fala por experiência própria. Depois que a filha nasceu, ficou mais difícil encontrar uma vaga no mercado de trabalho.

 

Foi quando ela decidiu empreender. A flexibilidade nos horários permitiu a ela conciliar a vida profissional com as tarefas do lar. “De manhã, enquanto minha filha está na escola, eu faço ligações e movimento as redes sociais”, detalha.

 

Mas quando a pequena Thais, de 6 anos, está de férias escolares, não tem jeito: acompanha a mãe no atendimento às clientes. Tem até quem reclame, mas Talita não se deixa abater, e aproveita para discursar.

 

“A gente precisa avançar na política. Quando estou com as minhas clientes, tento abordar sobre isso, peço que se envolvam mais”, afirma. “Apesar da gente já ter evoluído bastante, os cargos de chefia ficam para os homens. Precisamos buscar mais cargos de liderança”, diz.

 

Enquanto embeleza suas clientes e milita por igualdade, Talita faz a diferença. Um trabalho de “formiguinha” que ajuda criar uma rede de apoio entre mulheres. Além de atender em particular e visitar empresas, ela também reserva um espaço na agenda para ações sociais em comunidades.

 

“É importante demais, para mim, transformar a vida de outras mulheres”, resume a consultora.

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