Embrapa vai selecionar clones de mandioca para melhorar cadeia produtiva
Política
Publicado em 23/02/2020

No Maranhão, a Magnífica, marca de cerveja da Ambev, usa como matéria-prima a mandioca produzida por agricultores da região

 

Será iniciado projeto de pesquisa e transferência de tecnologia da Embrapa Cocais que irá melhorar a produtividade das lavouras de mandioca e a qualidade das raízes, matéria–prima para a produção da Magnífica, cerveja maranhense feita com mandioca típica do Maranhão. A Cervejaria Ambev fez a demanda à Embrapa Cocais, que propôs testar 250 clones e 12 cultivares da Embrapa, além de variedades locais já usadas pelos produtores do estado, para selecionar genótipos com alto teor de amido. 

 

O projeto intitulado: “Tecnologia para aumento da produtividade e qualidade (teor de amido) da mandioca no estado do Maranhão”, além de selecionar genótipos adaptados para as mais diferentes condições edafoclimáticas do Maranhão, inclui o treinamento de agricultores, técnicos e multiplicadores em mecanização da cultura (plantio mecanizado e colheita semimecanizada), manejo da cultura da mandioca, cooperativismo, associativismo e empreendedorismo comunitário e ainda produção de manivas sementes. Além da Ambev, são parceiros nesse projeto a Embrapa Mandioca e Fruticultura – pela expertise em melhoramento genético da mandioca -, a Embrapa Amapá – pela expertise em mecanização da cultura - e a Fundação Eliseu Alves.  

 

O pesquisador da Embrapa Cocais Guilherme Barbosa Abreu, líder do projeto, acrescenta que o trabalho de avaliação das características agronômicas dos genótipos e definição de tecnologias para maximizar o potencial das lavouras e raízes repercutirá também na qualidade dos demais subprodutos de mandioca. “Ainda este ano, iniciaremos os experimentos e as capacitações em práticas de manejo para recomendar, no final do projeto, pelo menos uma cultivar com alta produtividade de raízes e alto teor de amido. Procura-se produtividade acima de 30 toneladas por hectare e teor de amigo igual ou maior a 30%”. 

 

Serão avaliados nove genótipos de mandioca de polpa branca (BRS Aramaris. BRS Novo Horizonte, BRS Kiriris. BRS Poti Branca, BRS Tapioqueira. BRS Verdinha, BRS Caipira. BRS Mulatinha, BRS Guaira), dois genótipos de mandioca de polpa amarela (SRS Gema de Ovo, BRS Dourada) e um genótipo de mandioca de polpa creme (BRS Amarelo 2), além de 250 clones do programa de melhoramento de mandioca da Embrapa, 13 genótipos cultivados no Maranhão (Aparecida, Bonita, Flor do Brasil, Itapicuru, Carema Roxa, Fio de Ouro, Mucambo, Najazinha, Tatajuba, Vermelhinha, Branquinha, Praiana e Pretinha). Os trabalhos serão desenvolvidos em diferentes polos de produção, como Magalhães de Almeida, Itapecuru Mirim e Pedro do Rosário (em quatro safras distintas), totalizando 12 experimentos em quatro anos de projeto.

 

Segundo o gerente agro da Ambev, Vitor Antunes Monteiro, a cervejaria tem preferência por fazer negócios com impacto, para que seja bom não só para a empresa, mas também para parceiros, fornecedores, consumidores e a sociedade como um todo. “Foi desse desejo que surgiu a Magnífica, uma cerveja que presta homenagem à cultura maranhense e que, mais do que isso, possui um papel social na região, valorizando famílias de pequenos produtores no interior do Estado. Desde o princípio, sabíamos que o uso de tecnologias para aumentar a produtividade e rentabilidade no campo seria fundamental e que, neste sentido, a Embrapa é a melhor parceira. Esperamos, com este projeto, gerar melhorias nos rendimentos de maneira geral, beneficiando principalmente os pequenos produtores. Além disso, faremos programas de treinamento em diversas frentes, capacitando parceiros para que possam se profissionalizar cada vez mais. Tudo pensando na sustentabilidade da iniciativa no longo prazo”. 

 

Acredita-se que a pesquisa irá contribuir para o estabelecimento de um novo mercado, a partir do desenvolvimento das cadeias produtivas e economia local. “Esse é um projeto de inovação tecnológica entre Embrapa Cocais e empresa privada para melhorar a qualidade e cadeia produtiva da mandioca e seus subprodutos - como farinha, amido e bebidas, como a cerveja  -  refletindo positivamente na vida dos produtores”, diz a chefe-geral da Embrapa Cocais, Maria de Lourdes Mendonça.  Para o chefe de pesquisa e desenvolvimento da Unidade da Embrapa no Maranhão, João Zonta, a adoção de tecnologias recomendadas para garantir o fornecimento de raízes em qualidade e quantidade para a indústria processadora vai oferecer nova oportunidade de comercialização, a partir de melhores garantias de compra/venda e de preço das raízes, com venda direta do produtor à indústria, sem a participação dos intermediários. “A cadeia da mandioca ainda está se desenvolvendo no Maranhão e os cultivos no Estado se caracterizam pelo baixo nível tecnológico. Além de disponibilizar material genético de qualidade, percebemos que é necessário atuar em outras áreas, como por exemplo o manejo da cultura e a mecanização”, completou.

 

Tecnologias da Embrapa compõem o projeto - Nos experimentos, será instalado o projeto RENIVA (Rede de multiplicação e transferência de maniva-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária), que possibilita produzir cultivares livres de doenças e pragas; disponibilizar manivas de plantas de mandioca para serem multiplicadas em larga escala; validar genótipos de mandioca em diversos ambientes; resgatar variedades tradicionais, entre outros benefícios.

 

No âmbito do projeto da Embrapa Cocais, serão construídos canteiros e câmaras para a multiplicação rápida, viveiros para enraizamento das mudas e campos de produção de maniva semente. A metodologia de trabalho da multiplicação rápida será transferida aos produtores, técnicos de assistência técnica e multiplicadores, com capacitação a ser feita pelos técnicos da Embrapa Cocais e Embrapa Mandioca e Fruticultura por meio de aulas práticas e teóricas.

 

Para se ter ideia do ganho propiciado pela tecnologia, uma planta madura gera cerca de dez manivas-sementes e, com as técnicas de multiplicação do Reniva, esse número poderá chegar a 400 mudas. A inovação é a mudança na forma de plantio da maniva (caule da mandioca). Em vez de enterrar todo o caule-semente de forma desordenada no solo, e de uma só vez, o projeto Reniva ensina a cortar esse caule por etapas, replantando a semente para que ela se multiplique. “Pelo sistema, o agricultor produzirá mais manivas para plantar e, em consequência, na próxima safra, terá mais mandiocas de qualidade para colher”, explica o pesquisador Guilherme Abreu.

 

Além do ganho de produtividade e qualidade no sistema de produção da mandioca, o Reniva proporciona sustentabilidade e competitividade para a cultura ao disponibilizar manivas em quantidade suficiente e nos períodos de maiores demandas, em função das melhores épocas de plantio. O projeto surgiu na Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas-BA), em 2010, para suprir a falta de material propagativo de mandioca, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Com o tempo, foi se espalhando por diferentes estados de diversas regiões brasileiras, compartilhando informações técnicas que permitem ao produtor incrementar os resultados de suas lavouras. 

 

Outra tecnologia que fará parte do novo projeto é o Consórcio Rotacionado para Inovação na Agricultura Familiar – CRIAF, com a implantação de Unidades de Referência Tecnológica – URTs das cultivares que demonstrarem maior potencial produtivo para treinamento tanto no monocultivo da mandioca, quanto em sistema consorciado, em cada município de abrangência do projeto. As culturas alimentares que irão compor o CRIAF serão o arroz, feijão caupi, milho e mandioca, produtos que fazem parte da dieta dos agricultores familiares do Maranhão. O manejo será feito de forma que, ao final do ciclo das culturas anuais, a área fique formada com a cultura da mandioca. As unidades serão implantadas com o uso de tecnologias de correção de acidez do solo e correção de fertilidade por adubação. O manejo de plantas daninhas será com o uso de herbicida recomendado para a cultura da mandioca e serão usados diferentes espaçamentos para verificação da densidade de plantas mais adequada para que a mandioca expresse o seu potencial produtivo. As URTs terão também a finalidade de oferecer treinamento prático para técnicos e produtores.

 

O CRIAF permite organizar a diversificação produtiva da família em faixas, separando as espécies cultivadas de forma que não haja competição entre elas por nutrientes, água, luz e espaço. A metodologia preconiza a implantação de URTs nas quais são repassadas técnicas de manejo do solo, manejo de pragas e doenças, fertilidade e arranjos espaciais, permitindo o uso mais eficiente da terra com sustentabilidade, conservação e manejo adequados do solo. A adoção do CRIAF propicia a redução da carga de trabalho e do desmatamento, amplia a capacidade de produção por unidade de área e confere mais segurança alimentar e renda para a agricultura familiar.

 

Mandiocultura no Maranhão - Embora o estado do Maranhão tenha reconhecido potencial para a produção de mandioca, prepondera a baixa produtividade das lavouras, com a média de 8706 kg por hectare, muito abaixo da média nacional que é de 14356 kg por hectare (IBGE 2019). Para exemplificar ainda mais a baixa produtividade das lavouras maranhenses, dentre os 217 municípios que possuem área plantada com mandioca, apenas três apresentam produtividade acima da média nacional. Se compararmos a produtividade das lavouras maranhenses com as lavouras do estado do Acre, estado que ocupada o primeiro lugar no ranking de produtividade no país, a produtividade no Maranhão é aproximadamente um terço da produtividade acreana. Outra característica da mandiocultura - não só no Maranhão mas também em todo o Brasil - é uma grande participação da mão de obra no custo de produção da cultura. A viabilização da cultura da mandioca no Norte-Nordeste brasileiros passa inevitavelmente pela redução dos custos de produção, o que, por sua vez, passa por diminuir a dependência da cultura do trabalho humano a partir da mecanização de algumas atividades, a exemplo do plantio e da colheita. 

 

 

 

 

Flávia Bessa (MTb 4469/DF)
Embrapa Cocais

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