Durante esta semana aconteceram várias homenagens relacionadas ao dia da Consciência Negra que foi comemorada na última quarta, 20 de novembro. Para marcar a data, aconteceu na Câmara Municipal de Imperatriz uma Tribuna Popular, onde a Presidente do Centro de Cultura Negro Cosme, Professora Maria da Natividade, apresentou as dificuldades e conquistas relacionadas ao movimento negro em Imperatriz.
O presidente da casa José Carlos Soares Barros (Patriota), após as explanações da Sra. Natividade falou sobre a importância da data e prestou uma homenagem em prosa e verso a João Batista do Vale, mais conhecido como João do Vale, natural de Pedreiras, falecido em 1996 e que foi músico, cantor e grande compositor, com sucessos imortalizados como Carcará, Peba na Pimenta e Pisa na fulô. De origem humilde foi vendedor de laranjas, ajudante de caminhoneiro e servente de pedreiro.
José Carlos disse que a casa é do povo, e por isso iria aproveitar o ensejo para homenagear um maranhense negro que também veio do povo, o saudoso João do Vale, que foi para o Rio de janeiro e lá na casa de Chico Buarque de Holanda, deixou suas músicas e foi trabalhar de pedreiro. Um belo dia ele fazendo um traço de massa no rádio sai uma música dele muito bonita e ele disse ao mestre de obra que aquela música era dele, o que fez com que ele fosse muito destratado e serviu de chacota, não acreditaram. Ele pediu demissão e disse que iria provar que não tinha só aquela, mas muitas outras músicas. Informou que João foi agraciado com a última faixa de um LP por Buarque, e recitou de cor a música chamada ‘Minha História’:
“Seu moço, quer saber, eu vou cantar num baião, Minha história pra o senhor, seu moço, preste atenção
Eu vendia pirulito, arroz doce, mungunzá, enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar e quando era de noitinha, a meninada ia brincar
Vixe, como eu tinha inveja, de ver o Zezinho contar: O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar
Hoje todo são doutô, eu continuo joão ninguém, mas quem nasce pra pataca, nunca pode ser vintém
Ver meus amigos doutô, basta pra me sentir bem, mas todos eles quando ouvem, um baiãozinho que eu fiz, ficam tudo satisfeito, batem palmas e pedem bis e dizem: João foi meu colega, como eu me sinto feliz
Mas o negócio não é bem eu, é Mané, Pedro e Romão, que também foram meus colegas, e continuam no sertão. Não puderam estudar, e nem sabem fazer baião”.
Falou da felicidade de ter no recinto a ex-vereadora Caetana que nasceu no Lago da Onça, mesmo local de nascimento de João e relembrou sua tristeza por perceber que o povo não guarda a memória do grande maranhense, pois participou de um evento em Pedreiras com trinta e seis prefeitos e mais de cem vereadores, e o coral mirim da cidade cantou uma música carioca. “O professor quase zanga comigo, pois eu disse conhecia a história e a cultura da cidade e ele não colocou o coral pra cantar as poesias de João do Vale e cantar pelo menos pisa na fulô, e pedi pra ele que nas próximas oportunidades, o coral pudesse saber da história de pessoas como João do Vale e saibam valorizar toda sua riqueza cultural do lugar onde vivem”.
O presidente também destacou a oportunidade que a Câmara Municipal tem de receber todos os segmentos da sociedade, que isso tem sido um motivo de satisfação para todos os vereadores e tem feito um grande público comparecer à casa de leis.