A Justiça Federal de Tucuruí, no Pará, determinou neste domingo (01/05) que a Força Nacional de Segurança permaneça com o seu efetivo por mais 15 dias na Terra Indígena Parakanã, no município de Novo Repartimento, onde a Polícia Federal localizou no sábado (30 de abril) os corpos dos três caçadores: Cosmo Ribeiro de Sousa, José Luís da Silva Teixeira e Willian Santos Câmara. Eles estavam desaparecidos desde o dia 24 de abril. A decisão, que acatou pedido do Ministério Público Federal, foi motivada pela revolta que se instaurou na região “tendo em vista o clima iminente de conflito, em razão da comoção no velório” dos caçadores, diz o juiz federal Paulo Máximo de Castro Cabacinha.
A reportagem é de Cicero Pedrosa Neto, publicada por Amazônia Real.
Em sua decisão para “obstar ações violentas”, o juiz também determinou pena de R$ 5.000 caso a Força Nacional não cumpra a decisão e oficiou à União. “A retirada do efetivo em momento anterior configuraria descumprimento à decisão judicial, e eventualmente crise de desobediência”, disse o magistrado Paulo Castro Cabacinha.
Familiares dos jovens mortos responsabilizam os indígenas Parakanã pelos crimes. Várias manifestações estão sendo realizadas contra a etnia. Funcionários da saúde e da educação foram retirados das aldeias.
Nas redes sociais, a mãe de um dos caçadores pediu a “extinção” dos indígenas e o conclamou “apoio de bolsonoristas” para fazer justiça. Os Parakanã dizem que são inocentes.
Os corpos dos três caçadores foram encontrados em covas rasas e cobertos por folhas dentro do território indígena. Segundo o jornal Diário do Pará, os cadáveres estavam com as mãos e os pés amarrados. Até o momento a PF não divulgou o resultado da perícia, que irá explicar como os três homens foram mortos, qual meio utilizado e a autoria dos crimes.
Cosmo Ribeiro de Sousa, José Luís da Silva Teixeira e Willian Santos Câmara foram caçar na terra indígena, o que é proibido pela Lei 6.001/73. A terra indígenaParakanã é composta por 24 aldeias, tem mais 350 mil hectares e uma população de cerca de 1.500 pessoas. O território está localizado entre os municípios de Jacundá, Itupiranga e Novo Repartimento, no sudeste paraense, e a cerca de 170 quilômetros d Marabá, às margens da Rodovia Transamazônica (BR-230).
Em entrevista à Amazônia Real, a liderança Tarana Parakanã disse que seu povo não tinha envolvimento com o desaparecimentos dos caçadores. Ele relatou que os familiares dos três homens “agrediram um estudante indígena e a gente ficou sem saber o que tínhamos feito pra ele. Não tinha ninguém para explicar o que estava acontecendo”. Segundo ele, foram os próprios familiares que encontraram as motos e outros pertences dos caçadores dentro das matas da terra indígena.
A Amazônia Real também tentou ouvir as lideranças Parakanã neste domingo sobre os desdobramentos das investigações, mas eles não responderam às ligações até o fechamento desta reportagem.
Bloqueio de estradas e ameaças
Com os desaparecimentos dos três jovens, a partir de segunda-feira (25 de abril), o clima ficou tenso no sudoeste do Pará. A rodovia Transamazônica (BR 230), da qual um trecho dá acesso ao território dos Parakanã, foi bloqueada por manifestantes e familiares dos caçadores. Com medo de represálias, os estudantes indígenas do Instituto Federal do Pará (IFPA), em Novo Repartimento, tiveram que retornar para as aldeias às pressas. A reportagem apurou que, por medida de segurança, professores e funcionários da saúde foram retirados das aldeias.
Na terça-feira (26), o juiz federal da 2ª Vara de Marabá, Heitor Moura Gomes, determinou o desbloqueio da estrada que dá o acesso à Terra Indígena Parakanã, em Novo Repartimento, para a realização das buscas pela Polícia Federal, acompanhadas por membros do Ministério Público Federal (MPF) e da Fundação Nacional do Índio (Funai). Já estavam na região homens do Corpo de Bombeiros, da Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar do Pará.
A Polícia Federal divulgou nota informando que na manhã de sábado (30) os corpos foram encontrados dentro da Terra Indígena Parakanã. Disse que perícias estavam sendo realizadas por peritos criminais federais do Pará e de Brasília. Os corpos foram reconhecidos por médicos legistas da Polícia Científica em Marabá (PA), peritos da PF, além do reconhecimento dos familiares. Com o acréscimo da Força Nacional de Segurança, mais de 150 agentes de segurança participaram das buscas aos caçadores. “A Polícia Federal continuará a investigação com o objetivo de identificar os autores do fato criminoso”, disse a nota.
Procurada pela reportagem neste domingo, a PF não deu mais declarações sobre as investigações.
Ataques de “extermínio” aos indígenas nas redes
Com a notícia da liberação dos corpos dos caçadores Cosmo Ribeiro de Sousa, José Luís da Silva Teixeira e Willian Santos Câmara neste domingo (1), várias manifestações foram realizadas em Novo Repartimento pedindo por justiça e contra os indígenas. “Eu levanto a bandeira, Índios fora de Novo Repartimento!!! Fora! Queremos Justiça!!”, diz uma publicação veiculada na rede social Whatsapp do grupo de Educação Indígena, vinculado ao Fórum Regional de Educação Campo.
A professora Maria Gorete Borges da Silva, que se identifica como mãe de um dos jovens mortos, se manifestou no mesmo grupo atacando os indígenas Parakanã (autodenominados Awaeté). “Parakanã. Malditos. Foram 6 anos de minha vida dedicada a esse raça de Assassinos”, disse ela, destacando que indígenas conviveram com sua família.
Print das ameaças na rede social (Foto: Amazônia Real)
Em outro ponto da postagem ela conclama apoio contra os indígenas: “(…) Esses seres (Awaete Parakanã) não estão aptos a sociedade, são desumano e inescrupulosos!! Sei que não temos justiça em nosso país para que Justiça seja Feita”. “Creio que haverá justiça de Deus, nesse país ainda haverá um presidente da República que criará leis de EXTERMÍNIO a toda Raça e seus defensores”, afirma a professora Maria Gorete Borges da Silva.
Por telefone, a reportagem não conseguiu localizar a professora e nem os parentes dos outros caçadores para que comentassem sobre os desdobramentos das investigações. Conforme os sites da região, até o início desta noite, os familiares aguardavam a liberação dos corpos para a realização dos velório na Câmara Municipal, em Novo Repartimento, onde seguirão para o sepultamento na noite de hoje – segundo o advogado das famílias, Cândido Lima Filho, por telefone.
Procurado pela Amazônia Real, Cândido Filho afirmou que os indígenas são os principais suspeitos pelas mortes. “Mas isso é uma questão de lógica eles foram achados em terra indígenas e quem indicou onde era as covas foram indígenas, então não acho que tenhamos outro suspeito no momento”.
“[…] as investigações estão em andamento pela PF”, acrescentou o advogado.
A Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa) se manifestou nesta segunda-feira (2), por meio de nota, prestando condolências e solidariedade às famílias das três vítimas encontradas na TI Parakanã.
Busca pelos corpos na TI Parakanã (Foto: Amazônia Real/Ascom/Polícia Federal)
A Fepipa também repudiou os ataques e mensagens de ódio que circulam nas redes sociais direcionadas aos indígenas.
“(…) os intensos ataques aos povos indígenas, que estão sendo alvos de discurso de ódio nas redes sociais, em Novo Repartimento e região – por conta dos corpos terem sido encontrados dentro da Terra Indígena Parakanã”, disse a Coordenação Executiva da entidade indígena, reiterando que as investigações ainda estão em curso e ainda não é possível saber quem são os responsáveis pelos assassinatos.
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), também se manifestou e disse que designou o advogado Tito Menezes, indígena do povo Sateré-Mawé, para acompanhar os indígenas Parakanã, o qual está atuando diretamente com a Fepipa junto aos Parakanã
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