Povo de Deus pede que a Igreja reconheça as virtudes martiriais do Padre Josimo
14/05/2021 12:17 em Política

Nesta segunda-feira, 10 de maio, completaram-se 35 anos do assassinato do padre Josimo Morais Tavares. Dentro da 17ª Romaria da Terra e das Águas Padre Josimo, realizada de modo totalmente virtual nos dias 8, 9 e 10 de maio, que teve como tema “Da Amazônia para o planeta: queremos RES-PI-RAR”, aconteceu no dia 10 a visita ao Santuário Padre Josimo, em Buriti do Tocantins, onde estão os restos mortais de padre Josimo.

A reportagem é de Luis Miguel Modino.

Estavam presentes Dom Pedro Brito Guimarães, arcebispo de PalmasDom Giovane Pereira de Melo, bispo de TocantinópolisDom Philip Dichmans, bispo de MiracemaDom Francisco Lima Soares, bispo de Carolina, e Dom Vilsom Basso, bispo de Imperatriz. Junto com eles, tinha algumas lideranças, por conta do limite da pandemia. No final da missa, segundo Dom Giovane, “um grupo de romeiros que estavam lá, entregaram para nós, junto com essa mensagem-compromisso dos romeiros e romeiras, o pedido de diversas lideranças, não só do Tocantins, mas de pessoas de outros estados que conhecem padre Josimo, de entidades sociais, de comunidades eclesiais de base, pastorais sociais, um pedido para que a Igreja reconhecesse a virtudes martiriais do padre Josimo”.

 

Pedido de reconhecimento das virtudes martiriais do padre Josimo (Foto: Enviada por Dom Giovane)

O bispo de Tocantinópolis afirma que “a Congregação para a Causa dos Santos diz que o importante para um processo de canonização do mártir é a compreensão popular de que aquele servo de Deus goza de fama de martírio”. Dom Giovane Pereira de Melo insiste em que “isso em relação ao padre Josimo é inegável, toda a Igreja, diversas pessoas de outros credos, e de outros movimentos fora da Igreja, confirmam esse caráter martirial do padre Josimo”. Em consequência disso, os bispos presentes na missa têm se comprometido a levar adiante este processo.

 

Pedido de reconhecimento das virtudes martiriais do padre Josimo (Foto: Enviada por Dom Giovane)

A mensagem, destaca no padre Josimo que “sua vida doada a serviço dos pequeninos e indefesos e sua morte matada pela mão do latifúndio, sua páscoa assumida sem medo, sua fé no Deus da Vida, inspiram as nossas vidas, como seu sonho habita nossos sonhos”. O texto, que define o padre Josimo como mártir, diz encontrar nele “o irmão, o pastor, o profeta, o companheiro, o fiel seguidor do Mestre Jesus”.

 

Pedido de reconhecimento das virtudes martiriais do padre Josimo (Foto: Enviada por Dom Giovane)

O povo lembra os frutos da semente que plantou o padre Josimo, assim como todas as vítimas da violência e da pandemia. É denunciado o ataque contra os territórios, as florestas, as águas e o planeta, afirmando que “na Amazônia e no cerrado, “o agro é fogo”!”, insistindo em que “a Amazônia está doente”.

O manifesto destaca a Romaria como momento de oferta, memória e celebração, sonhando com uma Amazônia que tenha superado a “miséria, racismo, venenos, armas, servidão...”. Mas também, “animados pelas lúcidas e corajosas exortações do papa Francisco”, a mensagem é oportunidade de denúncia e de querer assumir “a cultura do cuidado mútuo e da fraterna compaixão”.

 

Pedido de reconhecimento das virtudes martiriais do padre Josimo (Foto: Enviada por Dom Giovane)

Por isso fazem o pedido “para que sejam devidamente reconhecidas e celebradas pela Igreja as santas virtudes que sua missão e seu martírio têm revelado e continuam suscitando entre seus seguidores, e entre nós, romeiras e romeiros a caminho do Reino da Vida”.

 

Confira a mensagem-compromisso na íntegra:

Mensagem-compromisso da 17ª Romaria Pe Josimo Bem-aventurado Josimo, mártir da justiça e da terra!

Somos Romeiras e Romeiros da terra do Bico do Papagaio e da região Tocantina e, para além deste cantinho da Amazônia, somos amigos e seguidores do Padre Josimo Morais Tavares.

Sua vida doada a serviço dos pequeninos e indefesos e sua morte matada pela mão do latifúndio, sua páscoa assumida sem medo, sua fé no Deus da Vida, inspiram as nossas vidas, como seu sonho habita nossos sonhos. No mártir Josimo, encontramos o irmão, o pastor, o profeta, o companheiro, o fiel seguidor do Mestre Jesus. Sangue que germina em flor, a semente que plantou durante seu encurtado ministério entre nós deixou frutos e espalhou novas e abundantes sementes que compartilhamos nos três dias desta 17ª Romaria da terra e das águas.

O chão aqui ao nosso lado transpira lágrimas de dor pelos filhos e pelas filhas, pelas mães e pelos pais, pelos jovens e pelas mulheres, pelos índios e pelos negros que se foram na violência da cobiça da terra e do ouro, no ódio da discriminação, na barbárie da turma da bala e do justiciamento e das milícias da morte, no genocídio cruel que acompanha e alimenta a pandemia, no poder confiscado por diabólicas “elites”. Modernos dragões estão aí, acabando com nossos territórios, nossas florestas, nossas águas, nosso planeta, proliferando novas ameaças à permanência da vida.

Na Amazônia e nos cerrados, “o agro é fogo”! A Amazônia está doente, de tamanha sangria e, no pulmão do mundo, já falta oxigênio. A dor do outro é a nossa dor. Vimos em romaria ofertar a memória e celebrar a páscoa dos nossos mártires, dos nossos ancestrais, dos legados que ressuscitam em nós.

Ofertamos o canto, a palavra falada, a poesia, as preces, os nossos anseios, o nosso bem viver, e semeamos voz e vida, no clamor da Amazônia. Sim, querida Amazônia, contigo também queremos res-pi-rar, sentir o fluxo e o refluxo do ar em nossos pulmões, almejamos voltar a sorrir, caminhar outra vez em romaria pelos nossos territórios, quando os bons ventos voltarem a soprar e quando o que um dia foi tido como “normal” terá sido definitivamente sepultado: miséria, racismo, venenos, armas, servidão...

Animados pelas lúcidas e corajosas exortações do papa Francisco, denunciamos o vírus da indiferença e do ódio, resistimos à asfixia do direito e da justiça e assumimos a cultura do cuidado mútuo e da fraterna compaixão. Fratelli tutti!

Seguiremos vivendo nossos sonhos e semeando esperança, pois “é hora de levantar, sem medo. Se nós nos calarmos, quem os defenderá? Quem lutará a seu favor?”

Neste dia 10 de maio de 2021, queremos ainda juntar nossa voz ao clamor popular de inúmeras comunidades cristãs, pastorais e movimentos que, dentro e fora do Brasil, também têm encontrado, na vida e na morte matada do Padre Josimo, a luz do supremo testemunho evangélico, dado na trilha da histórica caminhada dos pobres, em busca de justiça, paz e dignidade.

Formamos votos para que sejam devidamente reconhecidas e celebradas pela Igreja as santas virtudes que sua missão e seu martírio têm revelado e continuam suscitando entre seus seguidores, e entre nós, romeiras e romeiros a caminho do Reino da Vida. “Ê Josimo companheiro, tua vida em nossas vidas, teu sonho em nossos sonhos!. Lua cheia branca e bela, clareie essa noite escura, traga bem logo o novo dia, tocha expressa em ternura!“

17ª Romaria da Terra de das Águas Padre Josimo – 10 de maio de 2021, 35 anos do martírio do Padre Josimo. Proclamado e aclamado no Santuário de Buriti do Tocantins, ao lado do túmulo de Padre Josimo, sendo presentes entre os romeiros e romeiras os bispos dom Giovane (Tocantinópolis), dom Philip (Miracema do Tocantins), dom Wilson (Imperatriz), dom Francisco (Carolina) e dom Pedro (arcebispo de Palmas).

 

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