Escolha a solidariedade e a fraternidade: vacine-se
19/01/2021 20:40 em Política

Teóloga leiga e membro da Pontifícia Academia para a Vida argumenta que todos nós temos uma “responsabilidade moral” de receber a vacina contra o coronavírus.

O comentário é de Marie-Jo Thiel, professora de Teologia Católica na Universidade de Estrasburgo, na França, publicado em La Croix International, no dia 18-01-2021.

A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Desde o início da Covid-19, o Papa Francisco reiterou regularmente sua extrema preocupação pelos enfermos, seus entes queridos e por quem cuida deles. E ele também insistiu que o mundo e as sociedades que deram origem a essa pandemia devem “se curar globalmente”.

Para ajudar no esforço de desenvolver uma resposta global, o papa instituiu a Comissão Covid-19 do Vaticano em abril passado, envolvendo várias instituições da Santa Sé.

Essa comissão, em colaboração com a Pontifícia Academia para a Vida, publicou no dia 29 de dezembro uma nota de sete páginas que merece ser conhecida pelo seu razoável e audacioso equilíbrio ético.

O título dá o tom: “Vacina para todos. 20 pontos por um mundo mais justo e saudável” [disponível aqui em espanhol].

Os “anti-vaxxers” sem dúvida estavam esperando que o “Vaticano” encontrasse algo a dizer sobre a conveniência de se vacinar, especialmente porque alguns católicos estadunidenses dizem que a vacina deve ser rejeitada por causa do uso de subprodutos do aborto nela.

Mas a nota vaticana rejeita esse argumento.

“Os critérios que tornariam a decisão de se vacinar eticamente ilícita não são vinculantes”, diz.

O papa foi ainda mais longe durante uma entrevista veiculada no dia 9 de janeiro na TV italiana, quando falou do “negacionismo suicida” dos “anti-vaxxers”.

Em outras palavras, embora a expressão não seja mais encontrada na versão final da nota “Vacina para todos”, não é uma “posição profética” se opor à vacina.

Isso também é verdade para aqueles autoproclamados especialistas que não seguem as regras da pesquisa científica, mas estão prevendo o apocalipse.

A nota vaticana de sete páginas dá o tom desde a introdução.

Ela diz que se trata de combinar medidas imediatas com medidas de longo prazo; favorecendo “uma cura global, com sabor local”; e considerando o individual e o coletivo, a fim de responder não apenas ao hic et nunc imediato, mas visando também “uma ‘cura’ global e regenerativa”.

Em todo o texto, vê-se em ação o famoso princípio que Francisco evoca muitas vezes: “Tudo está interligado”.

O incentivo para se vacinar não vem da coerção, mas sim de argumentos fundamentados.

Todos têm a responsabilidade pessoal de levar seriamente em consideração os dados, porque a recusa em receber a vacina coloca em risco não apenas a própria pessoa, mas também os nossos entes queridos e quem não pode se vacinar por causa de outras doenças.

Em suma, não tomar a vacina põe em perigo a saúde pública, o sistema de saúde e os nossos hospitais.

Somos todos interdependentes! A vacinação, portanto, é uma verdadeira responsabilidade moral que todos devem escolher assumir pessoalmente.

Finalmente, a nota vaticana compromete a Igreja a levar a cabo um “plano de ação” de seis pontos.

A Santa Sé se oferece como uma plataforma de parceria e participação que envolve as Igrejas locais, colabora com as grandes estruturas globais e participa na avaliação partilhada, tudo a “serviço da cura do mundo” e do “cuidado da casa comum”.

Nenhum texto ético recente adotou essa perspectiva da bioética global até agora. Além disso, constitui um dos campos de pesquisa em nível mundial para a Pontifícia Academia para a Vida.

Por tudo isso, não se trata de um sonho impossível. A análise e as propostas são eminentemente realistas. É normal que os laboratórios busquem um retorno comercial; mas esse não pode ser o único objetivo!

Todo o ciclo da vacina deve ser considerado desde a sua concepção até a sua fabricação e a sua distribuição.

Como um “bem comum”, a vacina também deve ser compartilhada com os países menos desenvolvidos. É uma questão de justiça, solidariedade, subsidiariedade e fraternidade.

Nunca será suficiente dizer: somente juntos a humanidade vencerá a batalha contra a Covid-19.

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