SUICÍDIO: O melhor a fazer é falar e pedir ajuda
Política
Publicado em 03/09/2019

Lançada campanha de prevenção ao suicídio, que apresenta à população os espaços físicos e privados para ajudar pessoas que estão em sofrimento psíquico

 

“Tinha uma voz na minha mente dizendo que eu não servia para nada, que eu era uma inútil, que eu tinha que acabar com tudo. E eu não estava aguentando, a vontade que eu tinha era de sumir, era uma voz muito forte. Mesmo em tratamento com psicólogo, psiquiatra, chega uma hora que isso parece ser mais forte que a gente. A gente tem vontade de largar  tudo”.  Esse depoimento foi dito por T. L (16 anos).  Chorando ela me contou ao telefone que tem dias que passa por sentimento de morte. Já pensou em recorrer ao suicídio para acabar com um sofrimento, que segundo ela, vem não sabe de onde.

 

 

T.L diz que não tem problemas em casa, nem na escola, nem consigo mesma, mas passa por isso. Na última crise teve apoio da família, que pensou até em interná-la. Mas a “coisa”, como ela fala, foi passando. “Não sei até quando, mas estou lutando”, conta ela.

 

Assunto complexo e um grave problema de saúde pública,  as doenças mentais que culminam com a morte por suicídio motivaram a criação da campanha Rede do Bem: estamos aqui para ajudar! Lançada pelo Ministério Público,  por meio do Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos do MPMA – (CAOp-DH), em parceria como o Fórum Estadual de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, a iniciativa é  parte das atividades do mês de setembro, o Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio.A campanha tem apoio do deputado estadual Fábio Macedo (PDT), autor das leis que criaram o Dia Estadual de Combate à Depressão e o Programa de Auxílio a Pessoas com Depressão no âmbito da Rede Pública Estadual de Saúde.

 

“De fato o  assunto está sendo posto em debate. A gente saiu de uma clausura de mais de 100 anos, de um tabu gigantesco, de um preconceito infeliz que não servia para coisa nenhuma e que ninguém tratava, para campanhas como essa. Existia todo um mito em torno dessa temática e que impedia que a sociedade avançasse. De 13 anos para cá a Organização Mundial de Saúde abre essa possibilidade para que os países discutam isso, e em âmbito estadual essa discussão está mais latente. Agora tem que ter rigor metodológico e científico para falar disso. Falar com o cuidado adequado”,  disse o médico psiquiatra Ruy Palhano, integrante do Fórum.

 

O procurador–geral de Justiça do Maranhão, Luiz Gonzaga Martins Coelho, chefe do Ministério Público Estadual, fez a abertura da campanha e disse da importância da união de entidades, instituições e órgãos para o combate a esse problema de saúde pública.

 

“Vivemos em uma sociedade com mais de 3 milhões de desempregados. O desemprego e outros tantos fatores contribuem com graves problemas que culminam com o suicídio. Precisamos falar sobre isso. Tudo começa com a educação para uma discussão sem subterfúgios dessa temática. Individualmente nós podemos ser mais rápidos, mas unidos podemos ir mais longe”, disse o procurador.

 

O dia 10 de setembro será o ápice da campanha Rede do Bem, que tem a parceria de várias instituições públicas e privadas no combate ao suicídio. Uma extensa atividade informativa e cultural será realizada na Praça Nauro Machado (Praia Grande), a partir das 8h. A ideia é mostrar para a população que a cidade dispõe de vários pontos especializados para ajudar em caso de sofrimento psíquico, mas que a melhor forma de combate ao suicídio é a prevenção.

 

 “Profissionais da Secretaria de Saúde, dos hospitais públicos, da iniciativa privada, entre outros, estarão no evento para apresentar os seus serviços. O CVV (Centro de Valorização da Vida), Samu, Corpo de Bombeiros, Polícia Miliar, vários órgãos e instituições podem ser acionadas. Quando falamos da prevenção, falamos daquelas pessoas que observam quando alguém está no processo de adoecimento, por exemplo ansiedade, depressão, automutilação, que é diferente do suicídio. A partir daí, é bom procurar ajuda, porque no momento ápice da ocorrência essa pessoa já vai estar sob uma determinação de infelizmente vir a óbito em virtude de um suicídio”, diz a coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Direitos Humanos do MPMA – (CAOp-DH) e promotora de justiça, Cristiane Maia Lago.

 

Segundo o Tenente Coronel Aires, Comandante do Batalhão Escolar da Polícia Militar do Maranhão, instituição parceira da campanha, um trabalho especial de prevenção é feito em cerca de 400 escolas da Região Metropolitana há mais de duas décadas. Em contato com a comunidade escolar por meio de palestras, mediação de conflitos, entre outras atividades, o Batalhão tem relatos de alunos que se mutilaram que tentaram o suicídio. “Temos um trabalho voltado ao combate ao suicídio com profissionais, com uma equipe treinada capacitada para o Batalhão Escolar para que ele faça uma abordagem diferente. Em palestras nós percebemos situações daquele aluno mais introspectivo, com marcas de mutilação e a gente tem que ter um olhar mais atento para isso, para aquele aluno, de entender o que está acontecendo, quais os problemas que ele está atravessando, para que ele interaja com a gente, ou com a coordenação da escola para que a gente possa ajudar de alguma forma”, comentou o tenente.

 

Para  o médico Ruy Cruz, psicólogo e assessor especial da Secretaria de Estado da Saúde para Assuntos de Prevenção ao Suicídio, participar de uma rede é mais frutífero do que trabalhar isoladamente. “Tem-se a importância de buscar várias ações desde a prevenção até o tratamento e pós-tratamento desse tema, que é de suma importância na sociedade. Porque nós não só os suicídios, mas o grande número de tentativas de suicídios, e nós estamos preocupados porque estão aparecendo casos na fase da infância e juventude, o que nos provoca um alerta, de que nós precisamos estreitar os laços afetivos, lidar melhor com as frustrações e lidar melhor com esse momento que é muito delicado”, alerta  o psicólogo.

 

Dados

 

Na Região Metropolitana, somente neste mês de agosto, segundo relatório da Secretaria de Segurança Pública, foram 6 mortes que tiveram como causa o suicídio de pessoas com idade entre 14 e 40 anos. Para o Fórum Estadual de Prevenção da Automutilação e do Suicídio,  não há números fidedignos dessa situação.  Dentro da instituição está sendo trabalhada uma forma de fazer esse levantamento real de notificação de casos de suicídio, tentativas, automutilação, para que esses números sejam reconhecidos pela sociedade.

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde, quase 800 mil pessoas se suicidam por ano no mundo. Ou seja, enquanto você está lendo esse texto,  uma pessoa está cometendo esse ato, que é a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos de idade.

 

“Existem os dados de suicídio e os de tentativas de suicídio que não aparecem. É bom lembrar que isso é um tabu social, as pessoas não gostam de vincular essas relações. A gente precisa de certa forma prestar atenção que essas cifras negras que são dados que não aparecem precisam ser melhor trabalhados e  mudada a conscientização das pessoas e principalmente dos profissionais que atuam nas áreas da saúde, da educação, da comunicação como um todo”, alerta o médico Ruy Cruz.

 

Para mudar essa situação e combater as mortes por suicídio, a sociedade vem mudando, assim como as leis, assim como as ideias. Falar sobre suicídio, o que era tabu,  hoje já não é mais. É preciso falar!

 

Setembro amarelo

 

Neste mês de setembro órgãos e instituições públicas e privadas intensificam atividades no combate e prevenção ao suicídio. No Brasil, cerca de 11 mil pessoas recorrem ao suicídio por ano.

 

O mês começa com uma caminhada, Em Defesa da Vida, idealizada pelo Instituto Ruy Palhano, neste domingo, 1º, com saída às 7h, da Praça do Foguete, na Lagoa da Jansen. Segundo o médico Ruy Palhano, cerca de mil pessoas já se inscreveram e participarão de várias atividades com direito a distribuição de brindes e prêmios. “Vamos falar de prevenção, de cuidados e vamos  celebrar a vida”, convidou o médico.

 

As atividades do Fórum Estadual de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, que existe desde dezembro de 2017 e foi reativado no mês de março deste ano também se intensificarão neste mês.

 

Composto por entidades e instituições públicas e privadas, com o intuito de fundamentar a Política Estadual de Prevenção ao Suicídio, é coordenado pelo Ministério Público Estadual, para o atendimento de pessoas que se encontram em sofrimento psíquico com várias iniciativas de prevenção mostrando alternativas, dentre elas, culturais e  artísticas que despertem a participação dos jovens, principalmente os mais vulneráveis, em espaços gratuitos da cidade.

 

“São atividades que previnem o adoecimento psíquico, emocional e mental.  É um trabalho de prevenção para que os jovens procurem se divertir de forma diferente. No dia campanha, dia 10 de setembro, haverá atividades temáticas em que pais e filhos poderão participar juntos. Cultura, artes, informações cientificas, atividades físicas, músicas que elevam a autoestima. A gente precisa de coisas que nos elevem”, assegura a promotora  Cristiane Maia Lago.

 

Onde procurar ajuda

 

Centro de Valorização da Vida (CVV) – www.cvv.org.br

 

Ligue 188 – Você pode conversar com um voluntário do CVV

 

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial – 3222-9858

 

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social – 135

 

Hospitais e Pronto Socorro

 

Postos de Saúde

 

UPA – Unidade de Pronto Atendimento

 

Secretaria Municipal de Saúde – 3214-7300

 

Samu – 192

 

Ministério Público – 3219-1945

 

Centro de Apoio de Direitos Humanos -3219-1945

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