Maranhão já registra 210 casos de calazar, e dados preocupam
Política
Publicado em 27/08/2019

Foram registrados, este ano, no Maranhão, 210 casos da leishmaniose visceral (VL), conhecida, popularmente, como calazar, conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Os dados preocupam a sociedade e entidades, como a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa-MA).

A devastação do meio ambiente é apontada como o principal motivo para a proliferação da doença na capital e no interior maranhense. A O Estado, o médico veterinário Renan Nascimento Morais, presidente da Anclivepa, frisou que o calazar está diretamente relacionado à preservação ou destruição ambiental. Para ele, as estatísticas são muito maiores do que aquelas divulgadas.

“Aqui, não existe um projeto-piloto para preservar as árvores nativas. Há sete tipos de árvores nativas que são repelentes do transmissor do calazar. Isso é muito sério. Não há saneamento básico na capital”, denunciou Renan Nascimento.

“Com certeza, os dados são maiores. Eu trato a doença há 10 anos. Eu tratava um cão doméstico por semana. Hoje, esses números aumentaram para 5 ou 6 por semana. Muitos casos não são registrados porque são assintomáticos”, prosseguiu o médico veterinário.

De acordo com ele, onde há um cão contaminado, provavelmente há uma criança de 4 a 11 anos também contaminada pela leishmaniose visceral. Sacrifício de animais Renan Nascimento Morais condenou uma prática que, segundo ele, ainda ocorre no Maranhão, que é o sacrifício dos animais com calazar.

“Isso é um absurdo". Nas maiores cidades do Brasil, há um controle por meio de uma substância que é eficaz e deixa o animal assintomático. Na parte final, a população sempre perde”, comentou o veterinário.

O presidente da Anclivepa pontuou que há uma ligação entre a doença e o aumento da pobreza, uma vez que não existe uma política social que atue nesse controle. “Aqui em São Luís, crianças de 4 a 5 anos, e até de 11 anos, estão dando entrada em hospitais com sintomas da doença. O que ocorre é que as pessoas se instalam nos bolsões de miséria, onde não há água potável e existe muito esgoto aberto.

Sem uma política de saúde pública séria, o calazar ganha terreno e se prolifera com facilidade nesses ambientes sem estrutura”, declarou Renan Nascimento. Ele mencionou que toda ilha está afetada pela doença, mas há maior incidência nos bairros Ilhinha, Jaracati e Maracanã, onde muitas crianças brincam com cães contaminados pela LV nas ruas.

“E ocorre, também, nos demais municípios da região metropolitana, ou seja, Raposa, Ribamar e Paço do Lumiar”, completou o veterinário.

Poluição dos rios Para o médico veterinário, a poluição dos rios e córregos colabora bastante para a disseminação do calazar nos bairros. “Isso desequilibra o ecossistema. Tem que catalogar e sinalizar onde estão os efeitos. Onde há animais contaminados, dá para saber onde há esgoto aberto. Estão poluindo muito os córregos, jogando dejetos, e isso vai às praias, que ficam contaminadas”, expressou Renan.

Médicos veterinários nas UPAs Para Renan Nascimento, é preciso que o Estado coloque médicos veterinários para tratar a doença, no lugar de outras especialidades da Medicina. “Muita gente com suspeita de ter contraído o calazar vem de Caxias, Timon e Codó.

As crianças vêm e são tratadas aqui. Mas o certo é abrir as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) para os veterinários, para que trabalhem em cima do controle ambiental. Tem muito diagnóstico que é compreendido somente por veterinário.

Quem entende de zoonoses é veterinário”, indicou. Nota da Prefeitura de São Luís A Secretaria Municipal de Saúde (Semus) informou, em nota, que, por meio da Unidade de Vigilância em Zoonoses (UVZ), promove testes rápidos e contra provas nos animais em relação ao calazar. A Semus comunica ainda que a Superintendência de Vigilância Epidemiológica atua no controle vetorial do calazar, monitorando unidades de saúde e possíveis casos.

A secretaria ressalta que também investe em ações de conscientização nos bairros, para alertar a população quanto aos riscos da doença. Nota da SES A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que foram registrados 210 casos da doença este ano e ressaltou que as ações de combate direto à leishmaniose são de responsabilidade da gestão de cada município maranhense.

Como parte das ações de responsabilidade do Estado, a SES executa atividades permanentes de capacitação para médicos, enfermeiros e demais profissionais para o diagnóstico clínico e tratamento da doença, capacitação e descentralização para testes rápidos humano e canino, descentralização de medicamentos, investigação de óbitos e aquisição/distribuição de equipamentos de borrifação para o controle vetorial.

A Secretaria destacou, ainda, que a leishmaniose é uma doença cíclica, com períodos de aumento de casos. O transmissor vetorial da doença encontra no Maranhão fatores climáticos e ambientais para o seu desenvolvimento.

Sobre o calazar

O calazar é causada pelo protozoário parasita Leishmania, que é transmitido pela picada de mosquito-palha infectado.

O parasita ataca o sistema imunológico. Meses após a infecção inicial, a doença pode evoluir para uma forma visceral mais grave, que é quase sempre fatal se não for tratada. A doença afeta algumas das pessoas mais pobres do mundo e está associada à desnutrição, deslocamento de população, condições precárias de habitação e saneamento precário, um sistema imunológico fraco e falta de recursos financeiros.

O calazar, em geral, também está ligado a mudanças ambientais como o desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação e urbanização. A doença, quando progride, se manifesta de dois a oito meses após a infecção e se caracteriza por acessos irregulares de febre, perda de peso, fraqueza, aumento do baço e do fígado, nódulos linfáticos inchados e anemia. No entanto, se a carga parasitária é alta ou o nível de imunidade do paciente é baixo, o período de incubação é de 10 a 14 dias. 

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