Ao inaugurar um aeroporto no interior da Bahia nesta terça-feira (23), o presidente Jair Bolsonaro disse que ama o Nordeste e que faz um governo sem divisões regionais. Essa foi a primeira visita do presidente à região após ter sido divulgado um vídeo em que Bolsonaro fala sobre "governadores de paraíba".
— Não estamos no Nordeste, estamos no Brasil — disse o presidente, que falou ainda em "sangue cabra da peste" na família.
Após a declaração polêmica, Bolsonaro negou que tenha usado o termo "paraíba" para criticar nordestinos e disse que as críticas foram direcionadas a dois governadores: Flávio Dino (PC do B), do Maranhão, e João Azevedo (PSB), da Paraíba.
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), que não compareceu ao evento desta terça, vetou a participação da Polícia Militar da Bahia na segurança do ato de inauguração do novo aeroporto de Vitória da Conquista (518 km de Salvador), com a participação de Bolsonaro.
A medida foi criticada por Bolsonaro em uma rede social: "Lamentável a decisão do governador da Bahia que não autorizou a presença da Polícia Militar para a nossa segurança. Pior ainda, passou a responsabilidade de tal negativa ao seu Comandante Geral", disse.
A inauguração do novo aeroporto acontece em meio a uma disputa de bastidor entre governador e o presidente pela paternidade da obra. A construção do novo aeroporto, que terá capacidade para atender até 500 mil passageiros por ano, foi executada pelo governo da Bahia. Foram investidos R$ 106 milhões, sendo R$ 75 milhões do governo federal e R$ 31 milhões do governo do Estado.
Os recursos federais, vindos de emendas da bancada baiana no Congresso Nacional, foram repassados ao governo local durante as gestões Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). O último repasse do contrato foi realizado em novembro de 2018, ainda sob Temer.
Tensões
Descontente com o formato da festa de inauguração, restrito a 600 convidados — sendo 500 deles escolhidos pela Presidência da República — o governador da Bahia informou na segunda-feira (22) que não participaria do ato. Bolsonaro criticou a ausência durante discurso.
— Lamento o governador não estar aqui, afinal ele estaria ao lado do povo — afirmou.
Costa disse que a organização faria uma "inauguração restrita a poucas pessoas, escolhidas a dedo como se fosse uma convenção político-partidária" e também criticou as declarações do presidente sobre os governadores nordestinos.
— Infelizmente, confundiram a boa educação com covardia, e desde então, temos presenciado agressões ao povo do Nordeste e ao povo da Bahia — disse.
Com a desistência, o governador vetou a participação da Polícia Militar da Bahia na segurança do evento alegando que o ato passou a ser exclusivamente federal e caberia à Polícia Federal garantir a segurança do presidente.
— Não posso colocar a Polícia Militar para espancar o povo baiano que quer conhecer o novo aeroporto. Quem é popular e tem medo de ir às ruas, fica em seu gabinete. Se o evento é exclusivamente federal as forças federais que cuidem da segurança do presidente — afirmou.
Apesar da expectativa de tensão, não houve conflitos.
Principal adversário do governador, o prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) participou do ato e até discursou, indo de encontro ao protocolo que previa discursos apenas de autoridades locais e membros do governo federal. Ele foi saudado com gritos de "governador" por alguns aliados, classificou a polêmica com Rui Costa como desnecessária e elogiou Bolsonaro.
— Em qualquer canto deste Estado, presidente, o senhor será bem-vindo — disse.
Bolsonaro retribuiu e afagou o prefeito de Salvador, afirmando que ele um dia ocupará a cadeira de presidente da República.
Por outro lado, deputados petistas criticaram nas redes sociais a retirada de placas de outdoor do governo da Bahia que divulgavam o aeroporto como uma obra do governo estadual. A ação foi ordenada pelo prefeito de Vitória da Conquista, Herzem Gusmão (MDB), adversário do governador. Em nota, Gusmão afirmou que as placas estavam irregulares.
O novo aeroporto de Vitória da Conquista foi batizado pelo governo da Bahia com o nome de Glauber Rocha (1939-1981), cineasta baiano exilado durante a ditadura militar (1964-1985). Nascido em Vitória da Conquista, onde passou parte da infância, Glauber foi um dos idealizadores do Cinema Novo e dirigiu filmes como Terra em Transe (1967) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), este último indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes em .
O nome do cineasta, contudo, não foi pronunciado em nenhum dos discursos feitos na solenidade. A cineasta Paloma Rocha, filha de Glauber, também cancelou a participação que faria na inauguração do aeroporto.
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Fonte: gauchazh.