É do Maranhão: ele representará o Brasil na maior feira de ciências do mundo
Política
Publicado em 07/05/2024

O trabalho do maranhense Pedro Paulo, de 16 anos, está focado em pesquisa de combate às doenças tropicais

Por *Matheus Barroso, do g1 MA — São Luís

Com o desenvolvimento de um biolarvicida capaz de combater os mosquitos transmissores de doenças tropicais, o estudante Pedro Paulo, de 16 anos, vai participar do ISEF, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

 

“A ciência nos permite ir além, para as maiores descobertas do mundo moderno, nos fazendo avançar na busca de qualidade de vida”.

A frase acima é do jovem pesquisador maranhense Pedro Paulo Braga, de 16 anos, que vai representar o Maranhão e o Brasil na maior feira de ciências e engenharia do mundo, nos Estados Unidos, com o desenvolvimento de um projeto de pesquisa inédito, capaz de combater os mosquitos transmissores de doenças tropicais, como a dengue e a febre amarela, usando uma planta típica da vegetação maranhense.

O projeto será apresentado em Los Angeles, cidade da Califórnia, no evento Regeneron International Science and Engineering Fair (ISEF), que vai acontecer entre os dias 11 a 17 de maio. Do Brasil, foram 6.100 trabalhos inscritos, mas apenas 18 foram selecionados, incluindo a pesquisa de Paulo.

 

 

Paulo, que é da cidade de Imperatriz, a 636 km de São Luís, começou a desenvolver a pesquisa em 2022, quando ainda estava no 9º ano do ensino fundamental. Hoje, no 2º ano do ensino médio, começa a ver os resultados do reconhecimento dos benefícios que seu trabalho pode trazer para a sociedade.

Folha do Juá Bravo, usada por Pedro para o desenvolvimento da pesquisa

Paulo faz parte do programa Cientista Aprendiz da Universidade Estadual da Região Tocantina do MA (Uemasul), que prepara estudantes do ensino básico para o mundo da pesquisa científica. O trabalho desenvolvido por ele tem como objeto de estudo a planta Solanum viarum Dunal, mais conhecida no estado como Juá Bravo, muito comum de ser encontrada no cerrado maranhense.

 

Paulo explicou que o trabalho é focado na folha da planta, onde é encontrado o princípio ativo capaz de matar e modificar as larvas dos mosquitos transmissores de arboviroses.

 

“Analisamos os princípios ativos encontrados na folha do Juá Bravo, com o intuito de produzir um biolarvicida que consegue matar e modificar geneticamente as larvas dos mosquitos aedes aegypti, transmissor direto da dengue, febre amarela, chikungunya e zika vírus, e o Anopheles sp [hospedeiro e transmissor da malária e o principal vetor da doença no Brasil], dentre outras patologias tropicais”, explica Paulo.

 

 

O estudo, que teve como orientador o professor dr. de Ciências Biológicas da Uemasul, Zilmar Timóteo Soares, apresentou resultados promissores. O professor acrescenta que, na etapa de desenvolvimento da pesquisa, foi criado um aparelho para acompanhar o efeito do biolarvicida após entrar em contato com os mosquitos.

Paulo e Zilmar em laboratório, desenvolvendo o biolarvicida capaz de matar os  mosquitos transmissores de arboviroses

De acordo com Zilmar Timóteo, os efeitos eram precisos e eficazes no corpo dos insetos, manifestando vários desdobramentos positivos, como deixando os mosquitos estéreis, impedindo a reprodução dos insetos e matando todas as larvas fêmeas, após a aplicação do produto.

 

“As larvas, que se transformam em fêmeas, todas morreram após a aplicação do larvicida e 70% das larvas que se transformam em mosquitos machos sofreram degeneração. O restante se transformaram em mosquitos com dimorfismo sexual, ou seja, se tornaram estéreis”, explicou o professor.

 

Doenças tropicais no Maranhão e a pertinência da pesquisa

A pesquisa ganha reconhecimento num momento crucial da saúde pública do Maranhão e do Brasil. O estado já contabiliza o número de 4 mortes por dengue em 2024 e uma por chikungunya. No Brasil, são 2.246 mortes por dengue, segundo o Painel de Controle de Arboviroses do Ministérios da Saúde.

 

Diante disso, Paulo afirma que esses acontecimentos, e a incidência dos casos de outras doenças tropicais na região de sua cidade, o motivou a iniciar os estudos.

 

“ [O que me motivou foi] a realidade observada em minha região, sul maranhense, além de estados e países de clima tropical, onde pessoas são vítimas e ainda morrem de dengue, Zika, febre amarela, Chikungunya e malária”, contou o pesquisador.

Paulo explicou que o trabalho é focado na folha do Juá Bravo, onde é encontrado o princípio ativo capaz de matar e modificar as larvas

Para orientador e aluno, a resposta para a importância da pesquisa é unânime. Além do propósito de ser uma solução sustentável e ecológica de combate aos mosquitos transmissores, feita a partir de uma planta presente na vegetação do Maranhão, o desenvolvimento da pesquisa científica se propõe em apresentar à sociedade uma alternativa mais econômica, financeiramente, no enfrentamento às arboviroses.

 

“A importância dessa pesquisa tem um cunho social voltado para saúde. Essa pesquisa traz grande relevância para o Maranhão, já que desenvolvemos um produto natural de baixo custo que pode ajudar, principalmente, as pessoas mais vulneráveis”, disse o orientador.

 

Zilmar Timóteo pontua, ainda, que o objetivo central da pesquisa é ajudar “as comunidades no combate às doenças tropicais”, dando o apoio necessário para a promoção de mais acesso digno à saúde, e que “quando se trabalha pensando no outro, nos tornamos mais felizes”.

 

Destaque na ciência

O jovem pesquisador relata que desde cedo já demonstrava aptidão pela área da ciência. Ao g1, Pedro Paulo contou que teve a iniciação científica quando ainda estava no 6º ano do ensino fundamental, aos 11 anos de idade, na escola Santa Terezinha de Imperatriz, onde estuda, mas que foi no 9º que o interesse pela ciência cresceu e começou a se aprofundar mais nos estudos.

Estudante do MA representará o Brasil na maior feira de ciências do mundo com pesquisa de combate às doenças tropicais

Desde então, começou a participar de feiras científicas em outros estados do Brasil, como a Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), no Rio Grande do Sul, em 2023. No evento ele participou com o mesmo projeto de estudo na planta de Juá Bravo e ganhou em 1º lugar na área de Ciências Animais e das plantas.

 

Como premiação, ele ganhou um espaço para publicar um artigo científico na revista da Fundação Liberato e a credencial para participar da feira International Science and Engineering Fair (ISEF), em Los Angeles.

 

Planos futuros

Pensando no futuro, Paulo já faz planos para quando a pesquisa já estiver pronta. Ele compartilhou que almeja aperfeiçoar o projeto que está sendo desenvolvido por ele e pelo orientador Zilmar há mais de um ano.

 

Ele também pretende patentear e comercializar o produto final que, para ele, fará a diferença na elaboração de medidas mais eficazes de combate às doenças tropicais.

 

“Em uma perspectiva de curto prazo, pretendo melhorar e aperfeiçoar este projeto que estamos trabalhando há quase 2 anos, a fim de patentear e comercializar o produto final, que acredito fará a diferença para preservar a saúde e a vida das populações que sofrem vítimas de doenças tropicais”, disse Paulo.

 

Evento em Los Angeles

O orientador Zilmar vê a participação de Pedro Paulo no evento como uma oportunidade de apresentar os trabalhos científicos que são elaborados no Brasil e mostrar que o país também pode ser um grande protagonista na cooperação para o avanço da ciência e tecnologia mundial.

 

Para ele, esse reconhecimento pelo trabalho é muito importante e esperado, já que todas as etapas de desenvolvimento da pesquisa foram fundamentadas na ética e seriedade. Além do reconhecimento, ele conta que trazer o prêmio para o Maranhão também seria fundamental.

 

“O que esperamos é o reconhecimento pelo trabalho que desenvolvemos com ética, seriedade obedecendo todos os protocolos nacionais e internacionais. Mostrar que, no Brasil, desenvolvemos pesquisas desde as séries iniciais e quem sabe trazer um prêmio para o Maranhão.

 

Em busca de aprimorar mais os conhecimentos no ramo científico, Paulo enxerga no evento uma oportunidade de expandir os conhecimentos e, quando acabar, voltar para sua cidade mais fortalecido e apto para realizar outras pesquisas.

 

“Espero que esta participação na Regeneron ISEF – maior feira de ciências e engenharia do mundo - seja enriquecedora, tanto no âmbito intelectual como no pessoal. Que possa fortalecer minha aptidão pela pesquisa e abrir portas de oportunidades e conhecimentos”, almeja Paulo.

*Sob supervisão de Liliane Cutrim do g1 MA.

 

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