Suspeito da agressão é o cabo Rafael Ferreira Martins, da PM do Tocantins
Por AFnoticias
Cabo da PM do Tocantins é suspeito de agredir policiais femininas durante curso promovido pela Secretaria de Segurança do Ceará
O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), trocou a direção-geral da Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp) após a denúncia de uma policial que foi agredida com ripa de madeira durante um treinamento tático. A vítima é uma agente da Polícia Civil do Maranhão. Ela tem 53 anos e está fazendo tratamento psicológico.
"Inadmissível e revoltante a denúncia de agressão cometida por um policial do Tocantins, responsável por ministrar um dos módulos do Curso Tático Policial Feminino na Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp), contra uma policial civil do Maranhão", afirmou o governador.
O suspeito da agressão é o cabo Rafael Ferreira Martins, da PM do Tocantins, que foi um dos instrutores do curso de defesa pessoal voltado exclusivamente para policiais femininas. Ele faz parte do Batalhão Rodoviário e Divisas (BPMRED) e continua exercendo suas funções normalmente.
A agressão aconteceu em maio, mas só veio a público neste mês de junho. A policial publicou imagens das nádegas com hematomas e fez um desabafo nas redes sociais. Além dela, outras participantes do treinamento teriam sofrido agressões. A policial desistiu do curso após o episódio.
"Não compactuamos e não vamos tolerar qualquer tipo de violência contra as mulheres, assim como quaisquer abusos dentro dos nossos cursos de formação", declarou o governador do Ceará.
A Secretaria da Segurança do Ceará informou que abriu uma investigação para apurar a agressão a policiais femininas durante o curso.
"Determinei ao nosso secretário da Segurança Pública apuração rigorosa e imediata deste ocorrido, bem como a solicitação formal da instauração de processo disciplinar para apurar o fato e todo apoio e acolhimento necessários à vítima", explicou o governador do Ceará.
POLÍCIA DO MARANHÃO COBRA PUNIÇÃO
A cúpula da Polícia Civil do Maranhão afirmou que está cobrando providências em relação ao caso. Para o delegado-geral do Maranhão, Jair Paiva, o caso é inadmissível e ele está cobrando a punição dos envolvidos.
"Assim que soube do caso, no último dia 10 de junho, entrei em contato com a investigadora e o Delegado Geral da Polícia Civil do Ceará para que ela tivesse apoio. Ela registrou o caso na Casa da Mulher Brasileira de Fortaleza e depois veio a São Luís, onde também ouvimos ela. Queremos a apuração do caso e a punição, no âmbito criminal", afirmou Jair Paiva, ao g1 Maranhão.
O QUE DIZ A PM DO TOCANTINS?
Já a Polícia Militar do Tocantins (PMTO) divulgou uma nota branda e não adotou nenhuma providência concreta no âmbito da própria instituição. O cabo não foi afastado das funções até agora.
A PMTO disse que a supervisão do referido curso coube exclusivamente à instituição promotora do evento, e que já entrou em contato com a SSP do Ceará a fim de solicitar toda a documentação existente sobre caso, "para avaliação".
Por fim, a PMTO afirmou que "repudia veementemente" qualquer desvio de conduta e/ou excesso direcionado a qualquer pessoa, praticado por policial em razão da função ou fora dela e reafirma seu compromisso com a ética, a transparência e o respeito aos direitos humanos".
CURSO PARA POLICIAIS FEMININAS
O curso de quatro semanas foi promovido pela Secretaria de Segurança do Ceará para treinamento de policiais femininas de Pernambuco, Maranhão, Paraná, Rio Grande do Norte e Piauí. A proposta do curso era treinamento em defesa pessoal, técnicas operacionais policiais, salvamento, entre outros procedimentos. As aulas foram ministradas por PMs do Tocantins.
A vítima conta que no oitavo dia de aula, um dos instrutores alegou que um pedaço de sua pizza havia sumido e, por isso, puniu as mulheres, agredindo-as com uma ripa de madeira.
"Sim, essa sou eu, vítima de um macho escroto que se diz instrutor de curso! Um cabo da polícia militar do Tocantins, que mesmo depois do ocorrido está sendo ovacionado pela instituição e por todos que participaram do curso. Curso tático feminino deveria, sim, ser direcionado apenas para mulheres", relatou.
"FICAVA ME CHAMANDO DE VELHA"
“Eu estava em outra parte quando vi aquele cara louco falando ‘Roubaram minha pizza’, ‘São loucas’. Ele colocou todo mundo em posição de flexão e desceu a paulada em todas, na bunda. Tinha 22 comigo”, explicou.
Ainda conforme a denunciante, um segundo momento de agressão aconteceu quando o PM pediu que as policiais se retirassem do local. Como parte das agentes já estavam com marcas devido ao treinamento, o retorno à sala de instrução não foi feito com rapidez, o que teria estressado o instrutor.
“Ele mandou voltar porque achava que a gente estava retardando. Lá tudo é corrido. Ele botou a gente em posição de flexão de novo, eu e mais três, e desceu a paulada de novo. Mas, dessa vez, foi com mais ódio, tanto que gritei de dor. Não consegui (ficar calada)”, relatou.
O policial teria ficado ainda mais raivoso com gritos da vítima e passou a proferir xingamentos como “velha” e perguntava o que ela, que vinha do Maranhão, estava fazendo ali.
A agente desistiu do curso, mas já voltou a trabalhar - algo que, segundo ela, tem ajudado em sua recuperação. “Estou tendo total apoio dos meus chefes, por isso que estou aguentando e tendo essa coragem de levar até o fim. É a primeira vez que isso acontece”, pontuou a denunciante.
NOTA COMPLETA DA PM-TO
"Referente à informação de que uma aluna do Curso Tático Policial Feminino, realizado na Polícia Militar do Ceará, teria sido agredida por um instrutor Policial Militar do Tocantins, durante atividades do curso, a Polícia Militar esclarece que:
1 - A supervisão do referido curso coube exclusivamente à instituição Promotora do evento, a qual, inclusive já está apurando os fatos devidamente;
2 - Ao tomar conhecimento das informações por meio da imprensa, entrou em contato com a Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social do Governo do Estado do Ceará, solicitando toda a documentação existente sobre caso, para avaliação.
A Polícia Militar repudia veementemente qualquer desvio de conduta e/ou excesso direcionado a qualquer pessoa, praticado por policial em razão da função ou fora dela e reafirma seu compromisso com a ética, a transparência e o respeito aos direitos humanos".
Policial tem 53 anos e desistiu do curso. Atualmente ela faz / Foto: Divulgação