Reforma da Biblioteca de Bom Lugar garante oportunidades a jovens de João Lisboa
05/10/2022 22:31 em Política

O projeto de uma biblioteca comunitária no povoado Bom Lugar, zona rural do município de João Lisboa, se tornou realidade em 2006, nascido da necessidade da população que precisava se locomover com frequência até a biblioteca de João Lisboa, em um trajeto feito muitas vezes a pé. Além de percorrer uma distância de aproximadamente 15 km, ainda existia a possibilidade de encontrá-la fechada.



O começo foi em um prédio simples, mas aos poucos ele foi se tornando inviável para as necessidades dos usuários. Antes da reforma, a biblioteca era uma casa com apenas duas salas que não comportava mais a quantidade de livros. Além do tamanho, outra grande dificuldade era a falta de ventilação.



A nova estrutura da biblioteca, muito mais ampla e arejada, veio com incentivo do Governo do Estado, por meio da Agência Executiva Metropolitana do Sudoeste Maranhense (Agemsul). O trabalho realizado pela Agência na biblioteca incluiu reforma e ampliação através de correções estruturais, adaptações e melhoramentos no prédio existente, e também a reconstrução de muro, fachada, calçadas e rampas de acessos.



Padre Ernane dos Santos, 36 anos, trabalha há mais de 20 anos com projetos sociais. É professor, bibliotecário, escritor, contador de histórias, e também é o precursor e a grande força impulsionadora da Biblioteca Comunitária Poeta Ângelo Natanael (atual nome do local).



Ele explica sobre as principais dificuldades que motivaram a criação da biblioteca comunitária. Além de precisar se deslocar até a biblioteca de João Lisboa e muitas vezes chegar à cidade e encontrar a biblioteca fechada, a difícil acessibilidade causava prejuízo, impondo mais um obstáculo, em especial aos estudantes. "Eu já passei com livros na cabeça e água no pescoço. De João Lisboa, chegamos às 3 da manhã aqui na comunidade de Bom lugar", enfatiza o educador.



Histórias e conquistas

Em 2002, junto a outros membros da comunidade, Padre Ernane decidiu que eles precisavam se unir e construir uma biblioteca comunitária. Através de muitas parcerias e muito trabalho, eles tiraram a ideia do papel. A comunidade se motivou a participar e cada pessoa passou a contribuir como podia. Gradualmente, eles foram levantando uma construção humilde, mas que viria a mudar a vida de muitos jovens dali.



"Foi fundamental para o que eu sou hoje: um professor", afirma com orgulho Laércio Alves Ferreira, 34 anos, um dos primeiros alunos a se formar com ajuda do projeto. Graças ao incentivo do professor Ernane e suporte da biblioteca, Laércio, que pretendia desistir dos estudos ainda no ensino fundamental, conseguiu terminar o ensino médio e cursar o magistério. 



O atual espaço ajuda no desenvolvimento de projetos sociais como o curso de redação para auxiliar os jovens a se prepararem para os vestibulares; o ateliê de artesanato, que busca atuar na geração de fonte de renda para as donas de casa; e os projetos de leitura e de esporte, beneficiando mais de 200 crianças.



A artesã Vilma dos Santos Lima, 41 anos, encontrou não só seu ofício, mas uma forma de apoio psicológico através do ateliê. Vilma estava passando por um momento difícil em sua vida depois de perder dois filhos no curto espaço de três anos. "Agora no mês de novembro faz um ano que perdi meu caçula e em janeiro faz três anos que perdi meu filho mais velho. E aí eu comecei tudo de novo, fazendo crochê com as meninas, e está sendo um alívio para mim, porque se a gente focar no que está fazendo é mais fácil de se levantar", confessou a artesã.



Através do grupo Cultive, instituto suíço, o ateliê de artesanato organizou um catálogo internacional para exportar seus produtos, além de vender na comunidade. Não só as peças artesanais ganharam reconhecimento - o que inicialmente trouxe visibilidade à biblioteca foram os seus concursos de redação e poesia que, com a exposição na mídia e redes sociais, oferecem a oportunidade de mostrar o talento literário de jovens da região.



Segundo Padre Ernane, eles já tiveram poemas publicados em revistas internacionais, além de inúmeros jornais. Para o presidente da Agemsul, o diálogo e a atenção às comunidades têm garantido investimentos importantes. “São demandas atendidas por meio da sensibilidade do governo do Maranhão que garantem melhores oportunidades e mais qualidade de vida às pessoas em todos os cantos da Região Tocantina”, enfatizou Jonas Alves.



Na comunidade, eles realizam ações sociais além dos projetos, sempre ligadas à literatura, como a do dia 25 de setembro, onde foi realizada uma ação social e solidária em que, para cada cesta básica, a biblioteca se comprometeu a doar um livro. Essa é uma forma de não matar apenas a fome física, mas também a fome de conhecimento, segundo o Padre Ernane. "Porque se nós tivermos uma sociedade com conhecimento, com certeza teremos pessoas de visão, de sonhos diferentes", explica.



A biblioteca fica aberta durante os três turnos: manhã, tarde e noite. De segunda a sexta e por vezes sábado, dependendo da demanda. Ela oferece apoio e estrutura, incluindo estrutura digital para os estudantes universitários das comunidades próximas e de outros municípios, como Imperatriz e Cidelândia.

 

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