Eleição de Sonia Guajajara é histórica para os povos indígenas
03/10/2022 21:47 em Política

São Paulo elegeu, neste domingo (2), a primeira deputada federal indígena

 

Sonia Guajajara agora é deputada federal e esse momento é histórico para os povos indígenas e para as mulheres indígenas.

 

São Paulo elegeu, neste domingo (2), a primeira deputada federal indígena. Sonia foi eleita pelo PSOL com 156.695 votos, junto a outros 69 novos parlamentares que irão representar o estado paulista na Câmara dos Deputados. 

 

No Congresso, Guajajara somara ao coro de parlamentares da esquerda em defesa do meio ambiente e de comunidades indígenas.

 

As mulheres indígenas sempre foram silenciadas e subestimadas. Desde a invasão as primeiras violências foram direcionadas para as mulheres. Hoje estamos vencendo os bandeirantes que nunca morreram.

 

Sonia Guajarara fará toda a diferença no Congresso pois no rosto dela está retratada a mãe desse solo. Sua voz é o canto de outras mulheres indígenas, mas também da grande mãe terra.

 

Sonia ganhou, mas não ocupará o cargo sozinha. Tudo será feito de modo coletivo, pois povos originários são coletivos. Temos no sangue o verdadeiro significado de comunidade.

 

No Brasil existem mais de 305 etnias, 305 povos, mas para mim somos uma única nação, aquela que ainda lembra de respeitar a mãe terra, a que nunca desistiu de lutar.

 

Nossa luta continua, mas agora temos uma guerreira das nossas para fiscalizar o inimigo e isso tornará nossa missão ainda mais certeira.

 

Dizem que a Sonia é pequenina, mas esqueceram que as sementes também são.

Nascida em 1974 na Terra Indígena de Araribóia, no Maranhão, Sônia dedicou a vida para combater a invisibilidade dos povos indígenas. Em cerca de duas décadas de atuação na luta pelos direitos das populações originárias, atuou em diferentes organizações e movimentos, como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), da qual é coordenadora executiva.

 

Além de atuar no país, Sônia Guajajara tem voz no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Ativista há mais de vinte anos, a indígena representa os povos tradicionais nas Conferências Mundiais do Clima (COP) desde 2009, onde já apresentou diversas denúncias de violações aos direitos desses grupos. 

 

Aos 15 anos, ela deixou a região pela primeira vez para estudar em Minas Gerais, convidada pela Funai. Hoje, é formada em letras e em enfermagem, pós-graduada em educação especial e mestra em Cultura e Sociedade. 

 

Em 2001, participou do primeiro evento nacional indígena, a pós-conferência da Marcha Indígena, para discutir o Estatuto dos Povos Indígenas em Luziânia, no estado de Goiás. Em 2012, coordenou a organização do Acampamento Terra Livre na Cúpula dos Povos. No ano seguinte estava à frente da Semana dos Povos Indígenas e de ocupações no plenário da Câmara e no Palácio do Planalto.

 

Foi premiada diversas vezes, em 2019 recebeu da Organização Movimento Humanos Direitos o Prêmio João Canuto pelos Direitos Humanos da Amazônia e da Liberdade. No mesmo ano, foi agraciada com o prêmio Packard concedido pela Comissão Mundial de áreas protegidas da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). 

 

Guajajara entrou para a história da política brasileira em 2018, quando foi candidata a vice-presidente na chapa de Guilherme Boulos (PSOL). Foi a primeira indígena a concorrer ao cargo.  

 

Foi Boulos, aliás, quem escreveu o perfil de Guajajara na revista estadunidense Time, que a elegeu uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Convidado pela revista para apresentar a colega de partido, Boulos destacou o fato de ela ter saído de casa aos 10 anos para trabalhar e, contrariando as estatísticas, ter chegado ao ensino superior. Ela é professora e auxiliar de enfermagem. 

 

"Sônia é uma inspiração, não só para mim, mas para milhões de brasileiros que sonham com um país que quita suas dívidas com o passado e finalmente acolhe o futuro", destacou Boulos. 

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho (Brasil de Fato)

 

 

 

 

 

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